2014

O rumor da mídia

por Eugênio Bucci

Resumo

Se, no longínquo início do século XX, houve uma escalada vertiginosa dos diários impressos hoje há uma assombrosa erupção de processamentos, conteúdos e teias tecnológicas muito mais avassaladores e velozes que qualquer delírio de ficção científica. O assombro ficou ainda maior quando se soube, com as reportagens assinadas pelo repórter Glenn Greenwald, do Guardian, em 2013, da existência de novíssimas técnicas de monitoramento eletrônico a serviço das superpotências que, a pretexto de combater inimigos terroristas, disporiam de instrumentos para espionar ilegalmente todos e cada um dos usuários da internet, com métodos que escapam ao olhar dos comuns e à crítica da razão.

Segundo informaram as reportagens do Guardian, o governo americano – com o apoio de outros governos aliados – teria construído um sistema de armazenamento e filtragem capaz de arquivar, recuperar e destrinchar em detalhes as consultas feitas na internet por virtualmente qualquer cidadão do mundo, além de poder rastrear as mensagens trocadas por esse mesmo cidadão com seus interlocutores.

Diante desse ambiente como é possível falar em silêncio? Como pensar o silêncio no meio de tão vasta explosão? (Explosão, aliás, duradoura e persistente, que não é de hoje, que vem se intensificando pelo menos desde o final do século XIX).

Hoje, estamos irremediavelmente implicados na instância da imagem ao vivo e nela somos definidos. Aí está aquilo a que grosseiramente chamamos de mídia. A mídia é a nossa cultura, a nossa comunicação e a nossa era.

Há um rumor aí, que se sobrepôs ao da literatura mas que se alimenta do rumor da língua, na literatura ou fora dela. Por isso não deveríamos falar tanto em silêncio, posto que a fala sobre silêncio não é silêncio, assim como não é silêncio o pensamento que ao silêncio se dedica.

O silêncio, entendido como a ausência da fala falada, não é necessariamente a suspensão do pensamento, e o pensamento em atividade talvez não faça barulho, mas certamente não é silêncio, posto que é signo em movimento. Daí que, se o pensamento não silencia, ele constitui uma fala silenciosa, sendo, portanto, uma fala efetiva. No mais, o silêncio como aquela escuridão fria em que nenhum significante se move resta inacessível a nós, seres de linguagem. Há que se dizer ainda mais que isso: é preciso dizer que um significante perfeitamente estático, apagado, congelado, deixou de vibrar e de viver, trocando sua instabilidade essencial por uma estabilidade que lhe será mortífera, o que abre campo para a reformulação da proposição anterior a esta frase aqui. Ei-la, então, reelaborada: o silêncio como aquela escuridão fria em que nenhum significante se move – e se nenhum significante aí se move estamos tratando de um espaço vazio de qualquer significante – resta inacessível a nós que somos seres de linguagem.

Enquanto zumbem os ouvidos dos que vivem, delineia-se na penumbra a desconfiança de que, onde buscamos o silêncio, o melhor que temos a encontrar é o rumor, mesmo que seja o da mídia.


O rosto no travesseiro, escuto o tempo fluindo no mais completo silêncio.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, A rosa do povo[1]

… acho que anda por aí uma varejeira, não a ouve, ou será que me zumbem os ouvidos? ANTONIO TABUCCHI, Tristano morre[2]

I

Pelo versejar de Drummond, um poeta traz em si a capacidade de escutar o tempo que passa. A escuta poética busca seu objeto bem longe dos barulhos do mundo (uma vez que procura captar um som que não é bem deste mundo, um som que não é som, embora o poeta consiga enredá-lo nos tímpanos). Logo, o fluir do tempo ousaria se expressar num murmurar silencioso – ou talvez o ouvinte é que tenha de estar no silêncio completo para poder escutá-lo[3]. De um jeito ou de outro, vale perguntar: seria isso aí, essa voz cuja natureza é outra, o que poderíamos chamar de rumor?

Espere. É bom tomar cuidado com o lirismo que flerta com a metafísica. Ouvir o tempo, ouvir estrelas… como é isso mesmo? O que temos de certo, até hoje, é que o deslocamento do tempo não se escuta de jeito nenhum. Assim como não pode ser visto com os olhos (embora vejamos, triste ou alegremente, as marcas deixadas por ele nas pedras, no rosto, na memória), o tempo também não é acessível aos ouvidos, mesmo aos de quem tece versos. Com todo o respeito, o poeta está de conversa mole: apenas finge ter parte com o suposto som que não é som.

Tentemos, pois, fechar os ouvidos aos ouvidos de Drummond. Sejamos céticos. Sejamos óbvios. O tempo fluindo não faz barulho nenhum e esse negócio de ouvir como quem fica “no mais completo silêncio”, ou ouvir o que se move “no mais completo silêncio”, ora, isso também é puro fingimento. Quando muito, somos apenas moribundos, seres agonizantes assaltados pelo rastro estridente de uma mosca-varejeira a se bater contra a vidraça. É disso que desconfia Tristano, entre doses e mais doses de morfina, apodrecendo em seu leito de morte. Num súbito ataque de lucidez, supõe que nem mesmo a mosca-varejeira exista, e pergunta: “Ou será que me zumbem os ouvidos?”.

Chega de fantasia protoalucinógena. O zumbido é constitutivo e sempre fica lá, mesmo quando o sujeito não nota. Zumbem os ouvidos de todos os humanos, zumbem necessariamente, posto que a partir das fronteiras do feixe de ondas que a audição da nossa espécie pode alcançar, o que subsiste não é bem o idealizado silêncio (a cegueira acústica), mas o zumbido essencial. É pelo zumbido, e não pela ausência de som, que temos notícia do limite do ouvido. O limite é um muro, e esse muro é feito de uma estridência impenetrável.

Um dia, na juventude ou na velhice, a gente acaba se dando conta da permanência da mosca. Seria ela o rumor?

lI

Por volta de 1900, os jornais atingiram o apogeu de seu reinado, que se estenderia absoluto até mais ou menos os anos 40 do século XX. Nesse período, nada competia com os veículos impressos, liderados pelos diários, na função de levar notícias aos leitores. Nada superava os jornais como sede do debate público. A conversa séria era com eles. A instância da palavra impressa ordenava a realidade, gerando prestígio aos magnatas da mídia, com dividendos e lucros cada vez maiores. A publicidade crescia, as tiragens também, as impressoras ganhavam agilidade e incorporavam inovações industriais antes impensáveis.

Na primeira década do século XX, o New York World, do magnata Joseph Pulitzer, ultrapassou a marca de 1 milhão de exemplares por dia. Era um exemplar do World para cada quatro nova-iorquinos (em 1900, a população de Nova York estava na casa dos 3,4 milhões de habitantes). As revistas de interesse geral, bem como as femininas, também seguiam em ascensão. Títulos como Good Housekeeping e Vogue firmavam-se como verdadeiras instituições nacionais nos Estados Unidos, onipresentes em todas as cidades. Entre 1890 e 1905, um intervalo de apenas 15 anos, a circulação de publicações mensais saltou de 18 milhões para 64 milhões de exemplares.

Na cidade de São Paulo, a mesma onda se alastrava, ainda que em proporções bem menores. Um jornal pequeno, O Estado de S. Paulo (que entre 1875 e 1890 circulara com o título A Província de S. Paulo), ingressava num ciclo virtuoso. A população paulistana se multiplicava celeremente (o censo de 1890 contara 65 mil habitantes na capital paulista, número que subiria para 240 mil no início do século XX) e o Estadão também ampliava as tiragens. Durante a Guerra de Canudos, entre 1896 e 1897, com as reportagens assinadas por Euclides da Cunha, o enviado especial ao conflito no sertão da Bahia, o jornal alcançou o patamar histórico de 18 mil exemplares. Em 1930, quando a população paulistana passava dos 800 mil habitantes, a tiragem bateu a casa dos 100 mil.

Naqueles anos foi assim no mundo inteiro. As principais cidades viviam a expansão dos domínios da palavra impressa num ritmo exasperante, com textos e figuras em folhetos, cartazes, revistas, jornais e pôsteres que entorpeciam a população urbana. A partir dos anos 1920, os filmes mudos se banalizaram e vieram fazer companhia aos impressos, elevando ainda mais a profusão de imagens. Duas décadas mais tarde chegaria a vez do cinema falado, e logo depois as cores ganhariam as telas. Na década de 1950, a televisão arrebatou o lugar de honra nas salas de visita, lugar que até então era do rádio e, em meados do século XX, signos de todas as espécies preenchiam cada vão dos espaços sociais e monopolizavam o olhar.

Não é de espantar que, ali por volta de 1945, um poeta com a cabeça em seu travesseiro itabirano pressentisse ao longe não as pegadas sonoras do “tempo fluindo”, mas o rumor da mídia em plena explosão. Drum mond auscultou algo dessa sonoridade oculta rompendo os continentes e desconfiou que, por ali também, giravam as engrenagens da máquina do mundo e rangiam as dobradiças do tempo. Sem o mesmo encanta mento, um Tristano velho, adoentado, saudoso e tomado de rabugices, meio cidadão Kane, amaldiçoaria a barulheira toda como a uma mosca-varejeira. Mata esse bicho aí.

IlI

Os eletrônicos chegaram em seguida. Nos anos 1970, vieram os aparelhos de fax, cujas folhas, meio pastosas, meio plásticas, meio parecidas com tecido de tanta química que carregavam, não conseguiam reter a tinta por muito tempo. Mesmo assim houve quem, de olhos arregalados, identificasse no fax uma revolução em marcha, “a maior revolução desde Gutenberg”.

Desde então, por sinal, muitas outras “maiores revoluções desde Gutenberg” se sucederam. Incontáveis. A partir de 1985, os computadores pessoais e as pequenas redes (ainda incipientes) viraram realidade. Nos anos 2000, a web se instalou, amarrando o planeta inteiro. As redes sociais viraram mania em 2005, fanatizando bilhões de usuários, em contínua expansão. Apenas no Brasil, em somente dois anos, o número de usuários domésticos da internet saltou de 57,9 milhões (em 2011) para 76,6 milhões (em 2013), numa evolução que aumentou em cerca de um terço o total de pessoas com acesso à internet em casa. Em junho de 2013, o total de brasileiros conectados (seja em casa, no trabalho ou qualquer outro lugar) ultrapassou a casa dos 105 milhões[4].

Não surpreende que, na progressão exponencial das comunicações, os conglomerados da indústria do entretenimento tenham alcançado valores que superam com folga o PIB de muitos países, deixando cada vez mais claro que o centro nervoso do capitalismo se fundiu com o centro nervoso das comunicações em suas múltiplas ditas “plataformas”. Um dos primeiros sinais da nova escala de grandeza da indústria da mídia explicitou-se ainda no final dos anos 1990, quando empresas como a Time Warner / AOL passaram a apresentar faturamentos anuais acima dos 30 bilhões de dólares. As empresas da internet entraram no rol das que apresentam receitas multibilionárias. Em 2012, o Google, com um faturamento declarado de 37 bilhões de dólares, alcançou o terceiro lugar dentro desse time, ficando atrás apenas do conglomerado formado pela Comcast, Universal e NBC, com 55,8 bilhões, e da Disney, com 44 bilhões (a Time Warner Inc.,já sem a AOL, tinha caído para a sexta posição, com 29 bilhões de dólares ao ano). Em 2013, a Apple, outra companhia gerada na era da internet, virou a marca mais valiosa do mundo, avaliada em 185 bilhões de dólares. Em segundo lugar, ele mesmo, o Google, valendo 113,7 bilhões. Entre as dez marcas mais caras do planeta, outras gigantes da tecnologia digital, como a IBM, a Microsoft e a AT&T, ao lado das velhas Coca-Cola, Marlboro e McDonald’s. A General Electric, a antiga gigante imbatível, teve de se contentar com o 2º lugar, orçada em 55 bilhões[5].

Nada disso se deu em silêncio. O negócio das telecomunicações foi se fundindo mais e mais ao negócio do entretenimento (que já vinha de fusões precedentes entre cinema, indústria fonográfica, rádio, televisão, jornais e revistas, além dos games) e às empresas do ramo da tecnologia (software e hardware), dando origem a grupos imensos cujos valores começaram a rivalizar com aqueles da indústria convencional, como a GE, e do capital financeiro.

A produção dos chamados conteúdos se aliou às ferramentas de processamento e difusão das comunicações em geral e tomou o centro das dinâmicas sociais, da cultura à economia. Sem as tecnologias da informação, sem as telecomunicações, sem os recursos da televisão (na web, por cabo, por DTH ou por ondas eletromagnéticas, aberta ou paga, tanto faz), não há mais como fazer política, não há como desenvolver qualquer atividade cultural, não há como namorar, não há como fazer proselitismo religioso nem como investir dinheiro nisso ou naquilo. Sem as tecnologias digitais, o jornalismo não funciona, as igrejas falecem, o amor não acontece e o capitalismo não mais seria um projeto exequível.

Logo nos primeiros anos do século XXI ficou evidente, de uma vez por todas, que nossa era vem marcada por um fenômeno que a diferencia das anteriores: agora, o tempo do capital coincide com o tempo de suas representações. Em outras palavras, as relações de produção e os meios de comunicação se interpenetram a tal ponto que se mesclaram num organismo único. Infraestrutura e superestrutura não podem mais ser pensadas como categorias específicas, separadas, mesmo pelos adeptos mais renitentes dos esquemas teóricos mais rígidos (e frígidos): compõem um campo unificado e, dentro dele, o que era adereço da mercadoria (sua imagem, sua marca, seu sentido imaginário) se converteu em negócio principal – e o que era o próprio corpo físico da mercadoria, a coisa cor pórea, isso sim virou acessório, um suporte físico para marcas imaginárias muito mais valiosas.

Nada mais parecido com uma redação jornalística bem equipada do que as instalações de uma corretora de valores ou de um banco de investimentos. Na mesa de operações ou na editaria de finanças de um diário econômico, as informações que circulam são praticamente as mesmas, em telas gêmeas. Nos dois ambientes, essas mesmas informações são processadas por meio de ferramentas tecnológicas muito parecidas, ou mesmo idênticas. O dinheiro e o noticiário viajam juntos, ambos na velocidade da luz, pelos mesmos parâmetros e pelos mesmos protocolos tecnológicos. O entretenimento viaja ao lado dos dois primeiros. A linguagem desdobrada em tecnologia (ou a tecnologia elevada à condição de linguagem) amarra esses feixes ‘de força. Essa tecnologia-linguagem atua na reprodução do capital e do poder.

IV

Haja barulho. A era do Big Data transformou o velho database marketing, com aqueles meticulosos inventários sobre hábitos e preferências dos clientes, efetivos ou potenciais, em futilidade de menininha. O Big Data é o database marketing sem freios, sem limites, sem escrúpulos. Com ele, os algoritmos e as CPUS interconectadas aprenderam a ler em profundidade os sentidos superpostos das mais efêmeras e tolas mensagens em trânsito, assim como aprenderam a identificar motivações em gestos corriqueiros de cada usuário plugado na rede, tornando possível aos laboratórios de exames clínicos e às empresas de seguro médico prever quando um sujeito em pleno gozo de saúde será internado numa UTI. A privacidade foi para o vinagre, aos gritos[6].

A capacidade de processamento de dados subiu tanto que hoje um analista de sistemas, de posse de um ou dois softwares específicos, pode antecipar quantos gols um centroavante fará no campeonato do ano que vem ou quem vai ganhar as eleições para presidente dos Estados Unidos em cada um dos estados, como demonstrou por A mais B o estatístico Nate Silver, na reeleição de Barack Obama em 2012. Valendo-se apenas da recombinação inteligente da numeralha de pesquisas que já tinham sido publicadas, Silver previu o resultado, com uma precisão desconcertante.

Dentro da caixa craniana dos consumidores desavisados, os circuitos inconscientes das teias neuronais também perdem seus véus e se veem devassados por novas disciplinas (como o tal neuromarketing) que supõem adivinhar cientificamente as inclinações de compras das massas. Novos estudos de economia comportamental tentam destrinchar a lógica das decisões irracionais de agentes econômicos, dos agentes políticos, dos agentes de qualquer coisa em quaisquer dos domínios das atividades humanas[7].

A monumentalidade dos dados gerados pela expansão de bits e bytes surpreende mais e mais. Se, no longínquo início do século XX, a escalada vertiginosa dos diários impressos atordoava os passageiros de bondes e aqueles jovens senhores que usavam chapéu e bengala, hoje o atordoamento é mais ou menos o mesmo, mas agora o que assombra os passantes é a erupção de processamentos, conteúdos e teias tecnológicas muito mais avassaladores e velozes que qualquer delírio de ficção científica. O assombro ficou ainda maior quando se soube que à massa de imagens e mensagens mais ou menos visíveis, mais ou menos conhecidas, mais ou menos declaradas, corresponde uma segunda massa, esta de proporções iguais ou maiores, mas que não é declarada, não é visível, nem conhecida – ao contrário, é clandestina -, e que se destina a controlar secretamente a primeira.

As notícias sobre essa segunda massa de tecnologia escura, essa máquina oculta, começaram a se tornar públicas em junho de 2013, com as reportagens assinadas pelo repórter Glenn Greenwald, do Guardian, com base nos dados vazados por Edward Snowden, ex-consultor de segurança e ex-agente dos serviços de inteligência dos Estados Unidos. De repente, leitores de vários países foram avisados da existência de novíssimas técnicas de monitoramento eletrônico a serviço das superpotências que, a pretexto de combater inimigos terroristas, disporiam de instrumentos para espionar ilegalmente todos e cada um dos usuários da internet, com métodos que escapam ao olhar dos comuns e à crítica da razão. A tecnologia escura, essa máquina oculta, quis operar no silêncio, mas acabou também caindo no barulho.

Segundo informaram as reportagens do Guardian, o governo americano – com o apoio de outros governos aliados – teria construído um sistema de armazenamento e filtragem capaz de arquivar, recuperar e destrinchar em detalhes as consultas feitas na internet por virtualmente qualquer cidadão do mundo, além de poder rastrear as mensagens trocadas por esse mesmo cidadão com seus interlocutores. Resumindo, qualquer notinha que cada habitante do planeta postou ou leu na web estaria ao alcance dos olhos do Tio Sam. Quando levamos em conta que todo esse acervo não é mixaria – trata-se de uma montanha de dados difícil de ao menos ser estimada -, tem-se uma dimensão das proporções espantosas da máquina de espionagem.

V

Os números desse novo mundo da informação e da contrainformação eletrônicas reduzem os jornais do limiar do século XX a uma pequenez pré-histórica. Pensemos por exemplo no tamanho da Biblioteca do Congresso Americano, que, sozinha, é muito maior que, digamos, uma coleção inteira do New York Times, do World e de todos os jornais que circulavam em Nova York há cem anos. Pois bem, a Biblioteca do Congresso Americano cabe, inteira, em apenas 385 terabytes (1 terabyte é 1 gigabyte multiplicado por 1.000). 1 terabyte multiplicado por 1.000 é igual a 1 petabyte – e em1,5 petabyte se pode guardar todas as músicas existentes no mundo. Em apenas 10 petabytes cabem todos os conteúdos enviados pela humanidade num único dia – lembrando que o Google, que lida com muito mais do que isso, processa, sozinho, diariamente, 24 petabytes. Ou seja: num único dia, entra em circulação um volume de mensagens que não caberia em séculos e séculos de todos os diários americanos de 1900. O que não é nada. Façamos outra comparação. Até1986, tudo o que a humanidade conseguia guardar de informação cabia, segundo se estima, em 3 exabytes (que é 1 petabyte multiplicado por 1.000). Em 2013, a humanidade gera 2,5 exabytes de informação num único dia.

Se você quer mais imensidão de Big Data, lá vai: se multiplicarmos 1 exabyte por 1.000, teremos 1 zetabyte – e, com1,8 zetabyte, se pode armazenar os dados acumulados pelo planeta ao longo de um ano[8]. Segundo estimativas difundidas em 2013[9], o número de usuários da internet no mundo giraria em torno de 2,6 bilhões (número que, esperava-se, deveria dobrar na década seguinte). A cada minuto, essa multidão disparava, em 2013, 168 milhões de e-mails, via1,3 milhão de vídeos no YouTube e fazia 370 mil chamadas no Skype. Atenção: isso a cada 60 segundos, somente a cada 60 segundos.

Adauto Novaes, no texto “Mutações, o silêncio e a prosa do mundo”, que serve de base e de introdução para o seminário ao qual pertence este texto, traz mais um dado acerca da proliferação a cada dia mais acelerada dos signos que nos rodeiam: “Pesquisadores afirmam que, só nos Estados Unidos, houve um aumento de quase sete trilhões de palavras faladas, a partir da invenção das novas tecnologias”. Em poucas palavras, Adauto avisa que o rumor da mídia só aumenta o rumor da fala. Em um livro lançado ainda nos anos 1980, Richard Saul Wurman alertava para algo análogo: uma edição do New York Times tinha mais informação do que um cidadão ilustrado da Idade Média conseguia acessar ao longo da vida inteira[10]. Agora, há quem garanta que um smartphone pode exibir, num único dia, a quantidade de informação que Napoleão Bonaparte acessou desde o nascimento até a morte.

Cada vez maior o vozerio – e com maquinários cada vez mais microscópicos. Equipamentos cada vez menores realizam operações cada vez mais complexas, em tempos cada vez mais reduzidos. À medida que os gadgets se miniaturizam, crescem as opções de aparelhos inteligentes que os consumidores podem instalar até mesmo dentro do próprio corpo para processar informações. O FuelBand da Nike, usado no pulso, pode medir o volume de exercido que um atleta consegue fazer. O Google Glass é um display que vai na cabeça, como um par de óculos, e funciona o tempo todo online. A Apple, segundo se comenta, trabalha no projeto de um smartphone que teria o formato aproximado de um relógio de pulso. E, mais recentemente, em Taiwan, nasceu o projeto de um dente eletrônico que monitora o que se passa na (ou pela) boca do freguês: mastigação, tosse, respiração, líquidos etc.[11]. Isso sem falar nas tatuagens digitais.

VI

Diante desse ambiente cujo nervosismo faz trepidarem árvores, paredes e corpos humanos, como é possível falar em silêncio? O que mesmo? Silêncio? Como pensar o silêncio no meio de tão vasta explosão? (Explosão, aliás, duradoura e persistente, que não é de hoje, que vem se intensificando pelo menos desde o final do século XIX). Como pensar o silêncio diante dessa varejeira que vem zumbindo há séculos?

O silêncio resulta apenas impraticável, impossível, inviável, inconcebível. Seria razoável, talvez, imaginar um silêncio limitado, aí sim, um silêncio na forma de pausa, de vazio, de ilha entre ruídos. Nesse caso, ele seria uma convenção, um acordo mediante o qual todos observam um calar-se por um intervalo cronometrado, uma greve de ruídos, como se fosse uma ausência de sons dentro da pauta musical. Aí, sim. Vários conferencistas deste ciclo se lembraram da peça musical de John Cage, apresentada em 1952, batizada de 4′.33 “, que nada mais é do que um quantum de silêncio cronometrado[12]. O silêncio, assim entendido, não passaria de uma ausência de barulho, uma câmara à prova de som, com uma placa na porta: “Aqui dentro está guardado o silêncio”. Nesses termos, enfim, poderíamos conceber uma definição de silêncio, uma definição que, convenhamos, é modesta demais.

Acanhada demais. Acanhada porque o silêncio, nesse caso, só poderia existir como um anteparo, um contraponto musical para a barulheira que o circunda, posto que é em relação a ela que ele, silêncio, se afirma. O silêncio estaria reduzido a um contraste em relação ao que emite qualquer som ou ruído. Ele seria, enfim, e na perspectiva mais ambiciosa, um silêncio relativo.

Fora que esse silêncio precisa da língua para ser nomeado, de uma legenda, de uma voz que proclame: “Dentro desta caixa mora o silêncio, aquele que não fala”. Nesse caso, o silêncio é do tipo que se observa na abertura de algumas partidas de futebol em que o árbitro ordena “um minuto de silêncio” em respeito a alguém que tenha morrido, em sinal de luto. A torcida, quietinha, obedece. É um silêncio parecido com o tempo que o sujeito consegue ficar sem respirar, um silêncio feito uma bolha no meio de tantos sons, um buraco num queijo suíço feito de buzinas compactas. Falamos, então, do silêncio nomeado e autorizado, cercado por um tecido vibrante, gosmento, reluzente, em desbragada expansão, esse tecido que, ele sim, grita, murmura, late, explode, balbucia.

Coisa mais miserável esse silêncio de uma figa.

VII

Falamos do que balbucia e, bem a propósito, Roland Barthes distingue radicalmente o que rumoreja do que meramente balbucia. O balbucio seria o que ouvimos quando algo vai mal: uma máquina que não funciona direito emite sons que poderíamos chamar de balbucio. Já o rumor é outra coisa. O rumor conota o oposto: ouve-se o rumor quando vibra um organismo que funciona com a mais perfeita eficiência. Logo, rumor não se confunde com um reles barulho, muito menos com ruídos banais, como explica Barthes com sua proverbial clareza: “O rumor nada mais é que o ruído de uma ausência de ruído”[13]. Para que se entenda melhor: “O rumor é o barulho daquilo que está funcionando bem”[14]. Ou, melhor ainda:

Quando a máquina erótica, mil vezes imaginada e descrita por Sade, aglomerado “pensado” de corpos cujas regiões amorosas estão cuidadosamente ajustadas umas às outras, quando essa máquina põe-se a funcionar, pelos movimentos convulsivos dos participantes, ela treme e rumoreja levemente; enfim, ela está funcionando e funcionando bem[15].

Eis como Barthes nos dá a chave desse conceito desse rumor que nada tem de ruído:

Noutra noite, ao assistir ao filme de Antonioni sobre a China, experimentei de repente, na virada de uma sequência, o rumor da língua: numa rua de aldeia, algumas crianças, encostadas a um muro, leem em voz alta, cada uma para si, todas juntas, um livro diferente; aquilo rumorava da melhor maneira, como uma máquina que funcionasse bem; o sentido era para mim duplamente impenetrável, por desconhecimento do chinês e pelo emaranhamento dessas leituras simultâneas; mas eu ouvia, numa espécie de percepção alucinada, tão intensamente recebia ela toda a sutileza da cena, eu ouvia a música, o sopor, a tensão, a aplicação, enfim, algo como uma meta. Quê! Basta falarem todos juntos para fazer rumorejar a língua, da maneira rara, impregnada de gozo, de que se acabou de falar? De jeito algum, claro; para a cena sonora é preciso uma erótica (no sentido mais amplo do termo), o impulso, ou a descoberta, ou o simples acompanhamento de emoção: o que era trazido justamente pelo rosto dos meninos chineses[16].

Talvez se possa comparar o rumor encontrado por Barthes à respiração do mar em noite calma, de lua cheia. Ou, ainda, a um motor de automóvel que gira maravilhosamente bem. Barthes, como bem se sabe, confessou sua admiração pelos carros, tanto que chegou a compará-los a catedrais, enaltecendo a perfeição com que seriam fabricados. Sobre o “mito moderno” do automóvel, afirmou textualmente que seria “o equivalente exato das grandes catedrais góticas”, com base na seguinte fundamentação: “Refiro-me a uma grande criação de época […] consumida por sua imagem, mais que seu uso, por um povo inteiro que se apropria através dela de um objeto absolutamente mágico”[17].

Ao automóvel, na visão do filósofo, o povo atribuiria o mesmo valor que, em outras épocas, teria atribuído às catedrais, cultuando-o como entidade viva. Diz Barthes: “A insígnia Citroen, a insígnia fechada, transformou-se, aliás, em insígnia alada, como se agora passássemos da ordem da propulsão para a ordem do movimento, da ordem do motor para a ordem do organismo”[18]. Consequentemente, não seria ilógico supor que o ronco de um bom motor rodando a toda despertasse em Barthes a sensação do rumor da máquina perfeitamente azeitada.

Mas não nos satisfaçamos com as proezas sonoras da mecânica. A cena do filme de Antonioni, com as várias crianças lendo em voz alta e simultaneamente livros diferentes, inspira no espectador algo diverso do ronco de um Alfa, de um Ferrari ou mesmo de um Citroen (que, vamos e venhamos, não chega aos pés dos outros dois). Diante da sonoridade de um idioma cujas palavras ele não compreende, nem mesmo uma única sílaba, o filósofo detecta o rumor que atesta um funcionamento exato, em estado de arte: o rumor da língua. O que cada criança pronuncia na tela carrega sentido para ela e apenas para ela; as outras não lhe dão grande atenção, pois se ocupam em ler outras obras. Barthes intui assim que não é preciso decifrar as palavras para perceber a sonoridade superior da língua. Desfrutando dessa sonoridade, sem mais nada, ele pressente que algo ali vai muito bem: para cada uma das crianças que fala sozinha – e todas falam sozinhas estando juntas, falam sozinhas em grupo -, a língua é perfeita, a língua basta, ainda que não esteja comunicando nada para mais ninguém, muito menos para o espectador que não fala chinês. A língua, ali, é apenas uma concha morna que acolhe os falantes em sua solidão, abrigando-os em sua sonoridade, em seu rumor, que não se ouve exatamente com os ouvidos, ainda que o que se escuta aí tenha a ver, remotamente, com audição. O rumor da língua aconchega a alma, além dos tímpanos.

Agora, pense bem: esse rumor está em toda parte. Pense nos brasileiros pobres que gostam de música americana e que vão ao “baile dançar todo fim de semana”, sorvendo gostosamente de uma língua da qual não decifram uma palavra. Pense nisso e você terá encontrado um fragmento efêmero do rumor da língua. Gostar de música americana sem falar inglês é como dançar ao sabor do rumor da língua.

Barthes arremata:

Fico imaginando hoje, um pouco à moda do grego antigo, tal como descreve Hegel: interrogava, diz ele, com paixão, sem esmorecimento, o rumor das folhagens, das fontes, dos ventos, enfim, o estremecer da Natureza, para ali captar o desenho de uma inteligência. E eu, é o estremecer do sentido que interrogo escutando o rumor da linguagem – dessa linguagem que é a minha Natureza, homem moderno[19].

Ora, se a língua rumoreja, e se a mídia hoje é a língua ferida, inseminada e também acolhida pelo capital, pelo poder e pela tecnologia, sem contudo ser controlada por nenhum desses vetores isoladamente, deve-se admitir que também ela, mídia, rumoreja. Aliás, de um jeito ou de outro, pensadores e cronistas já registram há pelo menos dois séculos que ela rumoreja, isso desde antes de a mídia assumir seu posto de indústria dominante (dominação que ainda suscita controvérsias esganiçadas).

Numa rápida recapitulação de alguns desses registros, veremos que tanto o balbucio quanto o rumor da mídia vêm sendo ouvidos há um bom tempo. Às vezes, os observadores falam do rumor perfeito, outras vezes se queixam de uma bugiganga que zune irritantemente, como se fosse uma mosca-varejeira dentro da cabeça da gente.

VIII

Já não dispomos de jornais para cada período do dia! Tudo quanto alguém faz e empreende, tudo o que escreva ou até mesmo planeje escrever, é lançado para as mãos do público. […] As notícias correm de casa em casa, de cidade em cidade, de um país a outro e, por fim, de um continente ao seguinte, tudo sob a égide da pressa e da velocidade.

Quem escreve isso é Goethe, no ano de 1829[20], e não devemos ler as palavras dele como se fossem um anúncio profético. A ansiedade que ele anuncia já se encontrava instalada em seu tempo, era uma realidade corriqueira. Desde antes, desde pelo menos um século antes, quando ainda não havia nada parecido com a imprensa profissional, já existiam meios para os cidadãos publicarem suas ideias ou suas criações artísticas. Por volta de 1830, isso poderia ser feito sem muita demora. “A égide da pressa e da velocidade” já ditava a circulação das notícias, cujo ritmo em progressiva aceleração seguiria espantando as gerações subsequentes.

Àquela altura, a imprensa virava a instituição da moda, justamente por ser mais rápida que outras instituições que até ali vinham tomando conta do pensamento, como a Igreja Católica. Não por acaso, ao oferecer ao homem moderno a sua dose diária de informação e opinião, os jornais começavam a ocupar um lugar da Igreja. As homilias perdiam espaço para os editoriais. Sobre isso, por sinal, o francês Victor Hugo comentou: “A imprensa matará a Igreja”[21]. A mesma percepção já ocorrera ao filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (que chegou a dirigir um jornal em Bamberg, o Bamberger Zeitung, de 1807 a 1808), para quem a leitura diária dos jornais seria a oração matinal do homem moderno[22].

A cada dia, os jornais – embriões do que hoje aprendemos a chamar grosseiramente de mídia – conquistavam novos territórios simbólicos e abriam novas clareiras no imaginário, desbancando a Igreja e outras instituições, com velocidades cada vez maiores. Uma frase de Joseph Pulitzer, escrita em 1904, poderia servir como uma descrição fiel dos tempos atuais. “Estamos todos embarcados, queiramos ou não, numa era que revoluciona o pensamento e a própria vida”, escreveu o magnata em The School of Journalism in Columbia The book that transformed Journalism from a Trade into a Profession, texto no qual ele preconizou a criação de um curso de alto nível para formar os profissionais da imprensa. “O progresso caminha velozmente, com imensa aceleração, percorrendo em décadas os avanços que antes custariam séculos ou milênios.”[23]

Um ano antes, em 1903, Olavo Bilac, encantado com novas máquinas audiovisuais, redigiu um depoimento que hoje soa como a previsão vívida do que viriam a ser os telejornais, isso com meio século de antecedência.

Justamente agora, nos últimos dias de 1903, dois físicos franceses, Gaumon e Decaux, acabam de achar uma engenhosa combinação do fonógrafo e do cinematógrafo – o cronófono -, que talvez ainda venha a revolucionar a indústria da imprensa diária e periódica. Diante do aparelho, uma pessoa pronuncia um discurso: o cronófono recebe e guarda esse discurso e, daí a pouco, não somente repete todas as suas frases, como reproduz, sobre uma tela branca, a figura do orador, a sua fisionomia, os seus gestos, a expressão da sua face, a mobilidade dos seus olhos e dos seus lábios. Talvez o jornal do futuro seja uma aplicação dessa descoberta[24].

O fato banal de qualquer um, hoje, ser filmado a qualquer hora, de qualquer maneira, foi pressentido pelo filósofo Walter Benjamin, ainda nos anos 1930, quando esteve às voltas com a reflexão sobre o que sucederia com a obra de arte passível de ser reproduzida tecnicamente.

Cada pessoa, hoje em dia, pode reivindicar o direito de ser filmado. Esse fenômeno pode ser ilustrado pela situação histórica dos escritores em nossos dias. Durante séculos, houve uma separação rígida entre o pequeno número de escritores e um grande número de leitores. No fim do século passado, a situação começou a modificar-se. Com a ampliação gigantesca da imprensa, colocando à disposição dos leitores uma quantidade cada vez maior de órgãos políticos, religiosos, científicos, profissionais e regionais, um número crescente de leitores começou a escrever, a princípio esporadicamente. No início, essa possibilidade limitou-se à publicação de sua correspondência na seção “Cartas aos leitores”. Hoje em dia, raros são os europeus inseridos no processo de trabalho que em princípio não tenham uma ocasião qualquer para publicar um episódio de sua vida profissional, uma reclamação ou uma reportagem. Com isso, a diferença essencial entre autor e público está a ponto de desaparecer. Ela se transforma numa diferença funcional e contingente. A cada instante, o leitor está pronto a converter-se num escritor[25].

Benjamin ouviu com nitidez o rumor que a mídia em formação emitia. Pouco menos de trinta anos mais tarde, Marshall McLuhan, em 1962, foi tocado pelo mesmo rumor e antecipou o que viria a ser a internet em geral e a Wikipédia em particular:

O próximo meio, qualquer que seja ele, deverá ser a extensão da consciência. Ele incluirá televisão como seu conteúdo, não como seu ambiente, e vai transformar a televisão numa forma de arte. Um computador como ferramenta de pesquisa e de comunicação poderia reforçar as possibilidades de busca, tornar obsoletas as bibliotecas convencionais, suprir as funções de enciclopédia e entregar dados personalizados em alta velocidade[26].

A sensação de que a realidade se revolve em mudanças cada vez mais intensas, profundas e velozes – rápidas demais diante da capacidade humana de compreendê-las – vem rondando o pensamento de pelo menos dois séculos para cá. Entre tantos que comentaram a mesma sensação, coube a dois jovens, um com 30 anos e o outro com 28, escrever um resumo que ainda hoje comove pela contundência e, ao mesmo tempo, pela delicada precisão.

A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, e por conseguinte todas as relações sociais. […] A transformação contínua da produção, o abalo incessante de todo o sistema social, a insegurança e o movimento permanentes distinguem a época burguesa de todas as demais. As relações rígidas e enferrujadas, com suas representações e concepções tradicionais, são dissolvidas, e as mais recentes tornam-se antiquadas antes que se consolidem. Tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo que era sagrado é profanado […].

Estamos falando de Kar Marx e Friedrich Engels no Manifesto Comunista, lançado em 1848[27]. O rumor que esses dois pensaram ouvir foi do “fantasma” que rondava a Europa, mas eles também pressentiram outros bichos.

IX

Na epígrafe do texto “Da ciência à literatura”, que consta do volume O rumor da língua, Barthes se vale de uma proposição de Louis de Bonald, um expoente católico que se opôs à Revolução Francesa: “O homem não pode pensar seu pensamento sem falar sua palavra”.

Barthes vai além, reafirmando uma das pedras fundamentais do estruturalismo, gerado por Ferdinand de Saussure e desenvolvido por Claude Lévi-Strauss, de que o homem não pode existir fora da língua e de que as regras da língua definem seu pensamento:

A linguagem não pode ser considerada um simples instrumento, utilitário ou decorativo, do pensamento. O homem não preexiste à linguagem, nem filogeneticamente nem ontogeneticamente. Jamais atingimos um estado em que o homem estivesse separado da linguagem, que elaboraria então para “exprimir” o que nele se passasse: é a linguagem que ensina a definição do homem, não o contrário[28].

Nesse ponto, ele então formula a tese de que a cultura se articula como língua[29], atrevimento que ainda hoje – sobretudo hoje – há de arrepiar a calva de muitos intelectuais, para os quais a cultura também se constitui de práticas sociais extralinguísticas – tema que, agora, não nos importa nem um pouco. Importa-nos antes entender um pouco mais de perto por que, na perspectiva do filósofo que escutou o rumor da língua, não há sentido num pensamento que prescinda da linguagem, uma vez que não seria pensamento, e nem mesmo silêncio seria.
Como pensar sem nomear? E como nomear sem a linguagem?

“Nomear, como se sabe, é fazer ver, é criar, levar à existência”, diz Pierre Bourdieu[30], de sorte que o “fazer ver” se confunde com o “nomear”, ou depende do ato de nomear. Lembremos, quanto a isso, que ver não é descobrir, mas reconhecer, donde ver se reduz à operação mental de reconhecer no objeto visto o conceito nomeado – nomeado pela língua, pelo discurso e, também e cada vez mais, pela mídia.

Não se vê, isto é, não se divisa pelo olhar – e nem se concebe pelo pensamento – aquilo que não se nomeia. O “ver”, tal como Bourdieu emprega o verbo, designa “ver socialmente”, ou seja, reconhecer socialmente a visibilidade de algo ou, aínda, a identidade de algo que se diferencia das demais identidades que não a própria. Os sujeitos, socialmente relacionados na linguagem, reconhecem na sua íntersubjetividade a visibilidade do objeto a partir do momento em que essa visibilidade dá conteúdo a um nome também socialmente compartilhado. Daí que, ínescapavelmente, o sujeito só vê (só concebe) aquilo que sabe nomear ou, nesse caso, mais precariamente, aquilo que sabe ser necessário vir a nomear. Tinha razão o jornalista Walter Lippmann, em sua objetividade seca: “Na maior parte das vezes, não vemos primeiro para depois definir, mas primeiro definimos e depois vemos”[31].

Também por aí somos levados a aprender com Barthes e concluir que o que não tem lugar na linguagem é socialmente invisível. Se ver é reconhecer, ver é uma operação videológica.

O que seria então de um pensamento que se situasse fora da língua ou fora da linguagem? Talvez isso seja habitar espaços fora das relações sociais, fora da cultura. Numa palavra, um espaço fora da razão – que, desse lado de fora, dificilmente poderia ser ao menos espaço. Nesse passeio estruturalista – que, no entanto, não é um exercício intelectual de corte estruturalista -, seria conveniente lembrar que não haveria o pensamento estruturado sem a linguagem. Seria conveniente lembrar uma vez mais Lévi-Strauss, para quem a alienação é justamente a condição de quem se aliena não de si, mas da linguagem. Para ele, o que se aliena é aquele que renuncia à língua, renunciando, consequentemente, ao outro e à própria condição de ser social. Louco é o que vive fora da língua. Na sua célebre “Introdução à obra de Marcel Mauss”, ele escreve:

Pois, propriamente falando, é aquele que chamamos são de espírito que se aliena, uma vez que consente em existir num mundo definível apenas pela relação entre o eu e outrem. A sanidade do espírito individual implica a participação na vida social, assim como a recusa de prestar-se a ela (mas ainda segundo modalidades que ela impõe) corresponde ao aparecimento dos distúrbios mentais.[32]

Tudo isso concorre para a precedência da linguagem na constituição do humano e reforça a noção de que o silêncio, se fosse entendido como a supressão da linguagem – mesmo quando emudecemos, sem usar as cordas vocais para nada -, seria candidamente a supressão do humano.

É assim que o silêncio pode prescindir de quase tudo, menos da vigência da linguagem, da linguagem em funcionamento, da língua viva, em atividade – ou, em suma, do rumor da língua. O silêncio, se for pensamento, não será o silêncio total, posto que, como ensinou Saussure aos seus seguidores estruturalistas, “bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto”[33]. Lévi-Strauss ainda foi mais longe: “Os símbolos são mais reais do que aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado”[34]. E também Charles Sanders Peirce, a partir de outro referencial teórico, intuiu a mesma coisa: “O único pensamento que se pode conhecer é o pensamento em signo. Todo pensamento deve, portanto, existir em signo”[35]. Para Peirce, o próprio objeto não é senão uma representação mental[36].

A supressão da linguagem não criaria necessariamente o silêncio; apenas revogaria o humano.

X

Barthes identifica na língua as formas irrecorríveis de ordenamento (a cultura inclusive), de tal sorte que, mesmo quando se insurge contra o poder por meio do discurso, o sujeito não conseguirá alcançar a liberdade plena, uma vez que, na língua, ele se encontra submetido a uma ordem.

No livro Aula, ele afirma:

Na língua, portanto, servidão e poder se confundem inelutavelmente. Se chamamos de liberdade não só a potência de subtrair-se ao poder, mas também e sobretudo a de não se submeter a ninguém, não pode então haver liberdade senão fora da linguagem. Infelizmente a linguagem humana é sem exterior: é um lugar fechado. Só se pode sair dela pelo preço do impossível: pela singularidade mística, tal como a descreve Kierkegaard, quando define o sacrifício de Abraão como um ato inédito, vazio de toda palavra, mesmo interior, erguido contra a generalidade, o gregarismo, a moralidade da linguagem; ou então pelo amém nietzschiano, que é como uma sacudida jubilatória dada ao servilismo da língua, àquilo que Deleuze chama de “capa reativa”. Mas a nós, que não somos nem cavaleiros da fé nem super-homens, só resta, por assim dizer, trapacear com a língua. Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnifico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura[37].

Atenção para a ironia presente em “a nós, que não somos nem cavaleiros da fé nem super-homens”. No fundo, ele diz que “super-homens” e “cavaleiros da fé” não existem e assevera sempre e mais que não há nada fora da língua. Ou fora da literatura, onde nos é dado brincar com a língua.

E qual o status dessa literatura de que ele fala? Como num arremate, o pensador diz que tanto faz: “Posso portanto dizer, indiferentemente: literatura, escritura ou texto”[38].

E aqui estamos nós. Como língua e literatura não transitam mais fora das redes interconectadas, das páginas eletrônicas, das antenas, das telas luminescentes e dos circuitos digitais, isto é, como não há lugar para a manifestação cultural, por mais insignificante que seja, fora das mediações postas pelos meios de comunicação, cabe a nós reconhecer que não há nada fora da mídia, esse tecido eletrificante em que linguagem, tecnologia e capital se cruzaram em definitivo.

Vivemos uma era que poderíamos batizar de a era da escritura total – todos escrevem e reescrevem ao mesmo tempo agora. A escritura total se inscreve na instância da imagem ao vivo.

XI

As dimensões da instância da imagem ao vivo estendem-se para além do alcance da imaginação disponível ao senso comum. Não é simples nem direto intuir o alcance do rumor da mídia, quando essa mídia se inscreve na instância da imagem ao vivo, instância sem a qual o ambiente em que existimos tenderia a desintegrar-se.

Para que os contrastes implicados aí possam ser minimamente tateados pelas ideias, esbocemos uma comparação apressada entre o que seria o silêncio num jornal impresso – e, mesmo assim, um silêncio delimitado, bem demarcado, um silêncio que é mais uma pausa musical do que a supressão de sua linguagem – e o silêncio que engolfasse toda a instância da imagem ao vivo.

No dia 22 de maio de 2013, o primeiro editorial da página A3 do diário paulistano O Estado de S. Paulo saiu em branco. Não tinha título, uma única vírgula sequer, não tinha nada, apenas o ex-libris ao centro. Se existe uma aura em jornais – esses calhamaços que ainda servem para forrar o assoalho de apartamentos em reforma, para esquentar a calçada em que dormem os desvalidos e para acender churrasqueiras no fim de semana -, essa aura pode ser vista a olho nu na página A3 de 22 de maio de 2013. Nesse dia, quase metade da mais influente e tradicional página de editoriais da imprensa brasileira saiu vazia de palavras.

Na véspera, morrera Ruy Mesquita, aos 88 anos. Em outros espaços, o Estadão do dia 22 de maio cuidou de noticiar o falecimento. Um caderno especial foi dedicado à biografia do jornalista morto. Quanto à página A3, justamente a que era editada pessoalmente, e todos os dias, pela mão precisa de Ruy Mesquita, esta preferiu emudecer, num silêncio perturbador, um silêncio gráfico.

Durante a ditadura militar, quando a censura baixou no Jornal da Tarde e no Estadão, a polícia não autorizava que espaços em branco, silenciosos, denunciassem os vazios produzidos pela tesoura do governo. O silêncio gráfico, naquela época, era proibido. Naqueles anos de mordaça, estando vetada a alternativa do espaço em branco, os dois diários inventaram uma solução quase tão desestabilizadora quanto o próprio silêncio: em vez de enfiar bobagens chapa-branca nas clareiras deixadas pelos interditos, passaram a publicar trechos de Os Lusíadas e receitas de bolo. Na hora, só de bater o olho, os leitores percebiam que havia alguma coisa estranha por ali.

Em 2013, no Brasil, a imprensa já reconquistara o seu direito ao silêncio. Não, o silêncio não é a negação da razão de ser da imprensa. Esta existe para fazer barulho, é bem verdade, mas, muito excepcionalmente, esse silêncio muito específico – a opção por não publicar um único sinal gráfico – é a melhor expressão de uma dor indizível, como a dor que se abateu sobre a página no instante em que lhe faltou seu maior editor. O papel despido, com suas nervuras vegetais à mostra, em nu frontal, escancara a dor e escancara, ainda, um significado mais intenso e mais central. Essa coisa corpórea e estirada, o papel-jornal, tem sido a matéria sobre a qual as nações modernas forjaram sua identidade. Foi por meio de artigos de jornal que os federalistas ganharam a concordância dos cidadãos americanos e, assim, conformaram aquela nação. Foi também nos diários que os espaços públicos nacionais da Europa se traduziram em comunidades coesas, estruturadas em letras pretas sobre fundo branco. O papel cru que o leitor do Estadão pôde ver no dia 22 de maio de 2013, graças às letras ausentes no alto da página A3, é o mesmo papel que constituiu, do final do século XVIII até pelo menos a metade do século XX, o que já foi nomeado neste texto: a instância da palavra impressa (só muito recentemente substituída, sem ter sido revogada, pela instância da imagem ao vivo). Sem a instância da palavra impressa, as sociedades democráticas simplesmente não existiriam.

E em pleno 2013, na fissura aberta por aquele editorial vazio que escancarou as ranhuras do papel-jornal, o leitor pôde entrever o que poderíamos chamar – com certo atrevimento-de “a aura” do jornal. Contemplando o papel sem tinta, naquele retângulo emoldurado pelas bordas da paginação e ancorado pelo ex-libris, o leitor podia pressentir as bobinas escorrendo pelas rotativas de imprensa. Haja bobinas. Haja papel. São rios de papel nos quais vão se banhar as letras que também se renovam diariamente, de tal forma que um jornal nunca é igual ao do dia anterior, embora seja sempre o mesmo.

Mas era possível ver naquele vazio algo ainda mais distante que os próprios rios de papel escorrendo pelas rotativas ao longo dos séculos. Por ali deu para vislumbrar, num relance imperceptível, a própria História. Os jornais compuseram diariamente, ao longo de pelo menos dois séculos, o primeiro rascunho da História e, embora esta não seja um fluxo retilíneo, linear e constante, a função dos jornalistas é tentar fixá-la numa cronologia ordenada, embora vã.

Depois, à medida que, no correr do século XX, os meios eletrônicos lograram a sua própria instância – a da imagem ao vivo – e, com ela, os seus métodos, ritos e temporalidades próprias de promover e articular as mediações sociais, a História menos e menos pôde ser vista como um rio que flui – como as rotativas de celulose – e mais e mais tende a ser representada como um espetáculo que nunca sai de cartaz, cujos letreiros luminosos nunca se apagam, pois o show não pode parar, jamais.

O silêncio gráfico ou a forma gráfica de um modo específico de silêncio, tal como se manifestou no dia 22 de maio de 2013 no Estadão, que só é possível na instância da palavra impressa, se transposto para a instância da imagem ao vivo seria a escuridão espessa, um vazio de energia, um blackout, o vácuo sem massa, sem memória, sem luz, sem futuro e sem tempo presente. O silêncio abrangente e pleno, na instância da imagem ao vivo, seria a dissolução de toda paisagem que concebemos, tocamos ou imaginamos, uma negação maiordo que o próprio espaço conhecido. Esse silêncio seria a supressão do humano.

XII

Estamos irremediavelmente implicados na instância da imagem ao vivo e nela somos definidos. Aí está aquilo a que grosseiramente chamamos de mídia – que não se confunde com a imprensa, mas a contém, e que chega a uma orelha de livro, a uma bula de remédio, ao outdoor na estrada, ao apito da fábrica, à marca de uma caixa de fósforos, ao filme em cartaz, às locadoras, às farmácias, às logomarcas das peças de automóveis, à indústria dos games e aos trejeitos budistas numa novela de televisão. A mídia é a nossa cultura, a nossa comunicação e a nossa era. Há um rumor aí, que se sobrepôs ao da literatura, pobre literatura, mas que se alimenta do rumor da língua, na literatura ou fora dela, assim como o filme visto por Barthes se alimentava das vozes dos garotos chineses lendo seus livros. Por isso não deveríamos falar tanto em silêncio, posto que a fala sobre silêncio não é silêncio, assim como não é silêncio o pensamento que ao silêncio se dedica. O pensamento escorre como fala em voz baixa e, sendo fala, ainda que em voz baixa, não será silêncio também. A bem da verdade, não existe o “pensar em voz alta”, como diz alguém que sente que acaba de pronunciar o que não deveria, mas existe, antes, o falar em voz baixa, sem que ninguém nos possa escutar. Isso porque o pensamento só é possível como um discurso silencioso, como uma enunciação de alguém para si mesmo, numa prosa que não se enuncia em voz alta, mas que se tece em recolhimento.

O silêncio, entendido nesse caso como a ausência da fala falada, não é necessariamente a suspensão do pensamento, e o pensamento em atividade talvez não faça barulho, talvez, mas certamente não é silêncio, posto que é signo em movimento. Daí que, se o pensamento não silencia, ele constitui uma fala silenciosa, sendo, portanto, uma fala efetiva. No mais, o silêncio como aquela escuridão fria em que nenhum significante se move resta inacessível a nós, seres de linguagem. Há que se dizer ainda mais que isso: é preciso dizer que um significante perfeitamente estático, apagado, congelado, deixou de vibrar e de viver, trocando sua instabilidade essencial por uma estabilidade que lhe será mortífera, o que abre campo para a reformulação da proposição anterior a esta frase aqui. Ei-la, então, reelaborada: o silêncio como aquela escuridão fria em que nenhum significante se move – e se nenhum significante aí se move estamos tratando de um espaço vazio de qualquer significante – resta inacessível a nós que somos seres de linguagem.
Enquanto zumbem os ouvidos dos que vivem, delineia-se na penumbra a desconfiança de que, onde buscamos o silêncio, o melhor que temos a encontrar é o rumor, mesmo que seja o da mídia.

Notas

  1. Carlos Drumond de Andrade, “Desfile”, A rosa do povo, São aulo: Companhia das Letras, 2012, p. 99.
  2. Antonio Tabucchi, Tristano morre, São Paulo: Rocco, 2007, p. 37.
  3. Quanto a isso, vale lembrar aqui uma passagem de Frei Betto, em Aldeia do silêncio, Rio de Janeiro: Rocco, 2013, p. 15: “É preciso viver mergulhado no silêncio para encontrar a resposta. Ali o silêncio adesava sentimentos, descomprimia emoções, subtraía da mente inquietações, como a brisa lentamente remodelava a encosta da montanha. As mãos do tempo, em cuidadosa escultura, lapidavam nosso ser, assim como imperceptíveis gotas de água pingam do teto da caverna, amolecem a pedra e configuram estalactites”.
  4. Os dados são do Ibope. Disponível em: <http:/ / tecnologia.uol.com.br /noticias/ redacao 2013/ 10/03/ intemautas-brasileiros-atingem-105-milhoes-em-junho-de-2013.htm>. Acesso em: 9 jun. 2014.
  5. Informações publicadas em maio de 2013 no site da revista Exame, segundo o ranking anual BrandZ, da consultoria Millward Brown. Disponível em <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/ as-20–marcas-mais-valiosas-do-mundo-em-2013#u>. Acesso em: 9 jun. 2014. Em outra avaliação, publicada no dia 30 de setembro de 2013, a Apple foi também considerada a marca mais valiosa do mundo, mas com preço substancialmente menor, de 93,3 bilhões de dólares, seguida de perto pelo Google, avaliado em 93,2 bilhões. Trata-se do ranking da Interbrand, que existe desde 2000 (ano em que o Google ocupou a 36ª posição), que trouxe a Coca-Cola (que ocupara a primeira posição em todos os anos anteriores) em terceiro lugar, à frente da IBM e da Microsoft, respectivamente na quarta e na quinta posição. Disponível em: <http://economia.uol.com.br / noticias/ redacao/ 2013/ 09/ 30/ apple-supera-pela-r-vez-a-coca-cola-entre-as-marcas-mais-valiosas-do-mundo.htm>. Acesso em: 9 jun. 2014.
  6. Ver, no New York Times de 18 maio 2013, a resenha “Big Data is Watching You”, assinada por Ellen Ullman, a respeito do livro To Save Everything, Click Here – The Folly of Technological Solutionism, de Evgeny Morozov.
  7. Ver, por exemplo, Predictably Irrational: The HiddenForces That Shape Our Decisions, de Dan Arielli, Nova York: HarperCollins, 2008, e Think Fast and Slow, de Daniel Kahneman, Nova York: Farrar Straus and Giroux, 2011.
  8. Ver reportagem de capa na revista Veja, edição 2.321, ano 46, n. 20, 15 maio 2013, de André Petry e outros.
  9. Dados apresentados na conferência Impactos das redes sociais nos negócios e na sociedade, proferida pelo colunista da Folha de S.Paulo e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Luli Radafhrer, em reunião do Conselho Consultivo da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), em São Paulo, 25 set. 2013.
  10. Richard Saul Wurman, Information Anxiety, Nova York: Doubleday, 1989.
  11. If tooth be told” – reportagem publicada na série “Technology Quarterly”, The Economist, 7 set. 2013.
  12. Neste livro, fazem menção a Cage os seguintes autores: Francis Wolf, “O silêncio é a ausência do quê?”, p. 31; Pedro Duarte, “O silêncio que resta”, p. 131; Elie During, “Fazer silêncio”, p. 139 e Jorge Coli, ”A inteligência do silêncio”, p. 413.
  13. Roland Barthes, O rumor da língua, 3. ed., São Paulo: WMF /Martins Fontes, 2012, p. 96.
  14. Idem, ibidem, p. 94.
  15. Idem, ibidem.
  16. Idem, ibidem, pp. 96-97.
  17. Roland Barthes, Mitologias, 2ª ed., Rio deJaneiro: Difel, 2006, p. 152.
  18. Idem, ibidem, p. 153.
  19. Roland Barthes, O rumor da língua, op. cit., p. 97.
  20. Eduardo Giannetti da Fonseca, O livro das citações, 2ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 301. Giannetti observa, em nota de rodapé à página 300, que, “no início do século XIX, quando o poeta escreveu essas linhas, existiam na Alemanha um jornal matutino (publicado em Stuttgart), dois vespertinos (Hanover e Dresden) e um jornal da noite (Braunschweig)”.
  21. A frase está na página 171 da edição eletrônica de Notre Dame de Paris, de Victor Hugo, no capítulo II, “Ceci tuera cela”, do livro quinto. Disponível em: <http:/ /www.dominiopublico.gov.br/ download/ texto/lvoooo89.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2014. Nesse mesmo trecho, diz o texto: “[…] o livro de pedra, tão sólido e tão durável, daria lugar ao livro de papel, mais sólido e mais durável ainda”. A citação de Victor Hugo foi anotada por Karenine Miracelly Rocha da Cunha em Entre Hermes e Poseidon: o jornalismo na teoria do acontecimento comunicacional. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação). Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, 2013, p. 86.
  22. Georg Wilhelm Friedrich Hegel, ”.Aphorismen aus der Jenenser Zeit”, n. 31, em: Johannes Hoffineister (ed.), Dokumente zu Hegels Ent:wicklung, 2. ed., 1936; reimpr. Stuttgart-Bad Canstatt: Frommann, 1974, p. 360. Citado por Robert Buford Pippin, em “Hegel on historical meaning: for example, the Enlightenment”, Bulletin of the Hegel Society of Great Britain, n. 35, primavera-verão 1997.
  23. Joseph Pulitzer, The school of Journalism in Columbia The book that transformed Journalism from a trade into a profession, Seatle: Inkling Books, 2006.
  24. “Chronica”, no primeiro número da revista Kósmos, em janeiro de 1904. O texto foi recentemente divulgado após pesquisa de Vladimir Saccheta.
  25. Walter Benjaffiin, “Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura”, em: Obras escolhidas, v. 1, 7ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1994, pp. 183-84. O trecho foi lembrado ao autor deste ensaio pela leitura da já citada tese de Karenine Miracelly Rocha da Cunha, Entre Hermes e Poseidon: o jornalismo na Teoria do Acontecimento Comunicacional, op. cit.
  26. A frase consta da primeira versão de Understanding Media, de 1962, conforme foi afirmado por Derrick de Kerckhove, um dos maiores estudiosos da obra de McLuhan. Kerckhove, nascido na Bélgica, é doutor em sociologia da arte e literatura francesa, diretor do programa MacLuhan em Cultura e Tecnologia da Universidade de Toronto. Kerckhove fez conferências também no Brasil e, num texto introdutório ao catálogo do seminário McLuhan Galaxy Conference: understanding media, today (publicado pela Universidade Aberta da Catalunha, na Collection Sehen, e editado por Matteo Castelardi, Cristina Miranda de Almeida e Carlos A. Scolari), realizado em Barcelona em maio de 2011, ele cita uma vez mais essa mesma frase (p. ro). Disponível em: http:/ /books.google.com.br/books?id=m2jX7GrOQp oC&pg=PAro&dq=%22the+next+medium,+whatever+it+is%22&hl=pt-BR&sa=X&ei=l9JKUs_XC5GO9ASbhoHwBA&ved=oCEkQ6AEwAw#v=onepage&q=%22the%20next%20medium%2C%20 whatever%2oit%2ois%22&f=false. Acesso em: 23 out. 2013.
  27. Daniel Aarão Reis Filho (org.), O Manifesto Comunista 150 anos depois: Karl Marx, Friedrich Engels, Rio de Janeiro/São Paulo: Contraponto/Fundação Perseu Abramo, 1998, p. 11.
  28. Roland Barthes, O rumor da língua, op. cit., p. 15.
  29. Idem, ibidem, p. 16.
  30. Pierre Bourdieu, Sobre a televisão, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, p. 26.
  31. Walter Lippmann, “Estereótipos”, em: Charles Side Steinberg (org.), Meios de comunicação de massa, São Paulo: Cultrix, 1972, p. 151.
  32. Claude Lévi-Strauss, “Introdução à obra de Marcel Mauss”, em: Marcel Mauss, Sociologia e Antropologia, São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 20.
  33. Ferdinand de Saussure, Curso de Linguística Geral, Charles Bally e Albert Sechehaye (orgs.), São Paulo: Cultrix, 1969, p. 15.
  34. Claude Lévi-Strauss, op. cit., p. 29.
  35. Charles Sanders Peirce, Semiótica, São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 68.
  36. Ver sobre isso a tese de Eliza Bachega Casadei, Os códigos padrões de narração e a reportagem: por uma história da uarrativa do jornalismo de revista no século XX. Tese (Doutorado). Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2013, p. 64.
  37. Roland Barthes, Aula, São Paulo: Cultrix, pp. 7-8.
  38. Idem, ibidem, p. 8.

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