1996

Símbolos e bandeiras

por Luiz Roberto Monzani

Resumo

Apesar de sua curta duração, o movimento integralista de Plínio Salgado (criado em 1932 e dissolvido por Getúlio Vargas em 1937) teve dimensões nacionais, reuniu um grande número de adeptos e possuía um corpo razoavelmente coerente de doutrina. Surgiu no quadro conturbado da chamada Iª República, quando a classe média passa a exigir mais justiça e representação e há uma ênfase crescente no nacionalismo. Salgado, que participou do movimento modernista nas artes, prega uma aliança entre literatura e política, valoriza o Brasil rural (em contraposição ao artificialismo urbano europeizado) e faz uma crítica radical ao Estado liberal-burguês, crítica que em alguns pontos se assemelha à dos comunistas. Defende um Estado forte e nacionalista, acima dos partidos e da farsa eleitoral, mas o fundo de sua doutrina é essencialmente espiritualista e cristão. Seu discurso está longe de ser irracional ou simplesmente fascista. O que ele visa é uma unidade de pensamento e de sentimento de norte a sul do país, através de um trabalho constante e disciplinado de organização e educação do povo (trabalho que inclui um aparato de símbolos, gestos, saudações e bandeiras). Nesse sentido o projeto é mais ambicioso e totalitário: ao buscar convencer os indivíduos, ele quer apagar as diferenças e produzir sujeitos idênticos. Se realizado, o integralismo seria a noite cinzenta e uniforme da razão, criada em nome da felicidade e da harmonia entre os homens.


Gostaria, em primeiro lugar, de deixar claros os limites — muito estreitos — de minhas colocações. O que pretendo discutir são alguns pontos bem delimitados no interior do que costumamos chamar o integralismo de Plínio Salgado. Basicamente, é sobre o conjunto de seus textos que versarão minhas questões.

1

O integralismo, como se sabe, foi um fenômeno extremamente intrigante, tanto no desenvolvimento das ideias político-sociais no Brasil como no plano de um movimento organizado e estruturado. Surgiu, oficialmente, em 1932, com a publicação do célebre “Manifesto de outubro”, ponto de partida para a fundação da Ação Integralista Brasileira, transformada em partido político e chefiada por Plínio Salgado. Oficialmente existirá até 1937, época em que foi dissolvida por Getúlio Vargas. Depois disso, se excetuarmos uma fracassada tentativa de golpe em 1938, o integralismo praticamente desaparece.

Mas, nesse curto espaço de tempo, o integralismo merece nossa atenção pois foi, no Brasil, o primeiro partido de dimensões nacionais e, no seu auge, reuniu cerca de meio milhão de adeptos,[1] o que, por si só, já é um indicativo da importância de que se reveste seu estudo para uma melhor compreensão da vida brasileira no período. Além disso, o integralismo apresentou-se como um partido que possuía um corpo razoavelmente harmonioso e coerente de doutrina. Não se ateve também única e exclusivamente a uma ação político-doutrinária, mas teve uma ação social, isto é, assistencial, educativa etc.

Por esse quadro sumário, pode-se perceber que inúmeras questões afloram quase que imediatamente: quais as suas bases teóricas? Que tipo de ideologia prega? Que mensagem transmite? Contra quem ou o que se contrapõe? Qual era o destinatário desse discurso? Essas, e inúmeras outras questões, podem ser endereçadas ao movimento integralista, e todas são pertinentes. Mas, como afirmei acima, vou me limitar a abordar uma ou duas questões, tendo como pano de fundo o fato de que é mais ou menos um lugar-comum que o integralismo é visto como uma das manifestações da crise da razão. Mais especificamente, existe uma espécie de postulado que atravessa, se não a totalidade, pelo menos a maioria dos livros de história — seja geral, sejam os dedicados aos anos 20/30 — que diz, em essência, o seguinte: o integralismo nada mais foi do que a forma ou versão brasileira do fascismo, movimento que, como se sabe, é uma das manifestações do irracionalismo. Elementos que corroborem isso é o que parece não faltar: o nacionalismo exacerbado, a figura hipostasiada e mística do chefe, o princípio de obediência cega, a manipulação das massas em passeatas, os uniformes, os símbolos, bandeiras, juramentos, rituais iniciáticos, a desconfiança contra a razão e a exaltação da intuição e do sentimento etc. etc. Todos esses elementos — e muitos outros — não são índices mais que suficientes para caracterizar o integralismo como a versão cabocla do fascismo?

Ora, a primeira coisa curiosa que se pode notar é que, se deixamos de lado os textos de história geral e particular e passamos aos estudos especificamente dedicados ao integralismo, esse juízo está longe de constituir uma unanimidade. Pelo menos no que se refere aos trabalhos mais recentes.[2] Somente dois entre eles, o texto de H. Trindade e o de Vasconcelos, concordam explicitamente em filiar o integralismo ao fascismo, sendo que, no caso de Trindade, isso é feito com muitas ressalvas. Já M. Chauí prefere falar num pensamento autoritário e, num determinado momento, julga que a questão da importação de um modelo europeu (em espécie, fascismo italiano) não é, de longe, a mais relevante.[3] R. Araújo trabalha com o conceito mais amplo de totalitarismo (de modo muito fecundo, diga-se de passagem) e, só através dele, estabelece pontes e ligações. Já Chasin recusa aberta e claramente qualquer relação profunda entre o integralismo de Plínio Salgado e o fascismo, embora não negue seu caráter irracionalista. Estabelece isso por outras vias.

Esse pequeno e rápido balanço já é indicativo de que trabalhar com a fórmula exposta há pouco é, pelo menos, algo que merece uma espécie de justificação prévia. Não estamos querendo dizer que ela é, a priori, falsa, mas que é preciso ser um pouco mais cuidadoso e, sobretudo, procurar ver se é por esse viés que a questão deve ser encarada. Na verdade, como procurarei mostrar, há bons motivos para que se tenha dúvidas sérias. Talvez haja outro caminho, que não esse usual, para que se estabeleça um vínculo entre o ideário integralista e o tema da crise da razão.

***

Antes de mais nada, coloquemos a questão: em que condições concretas nasceu o movimento integralista? Se conseguirmos responder a essa questão poderemos delimitar melhor quem foi seu destinatário e que demandas ele veio preencher.

2

Os historiadores estão, em geral, de acordo em afirmar que o último meio século da Monarquia foi um período de relativa estabilidade, o que será vivamente contrastado com o período republicano, marcado por intensas agitações.[4] Um dos problemas centrais enfrentado pela República foi, dada a nova ideologia e o regime de trabalho, o da base monetária, insuficiente para os novos moldes (trabalho assalariado, expansão da burocracia, expansão da incipiente indústria). Tudo indica que era necessário expandir essa base, e Rui Barbosa fez o que devia fazer, expandindo-a, seguindo assim o único caminho viável. Mas o fenômeno conhecido como o “encilhamento” foi algo inédito e surpreendente para a sociedade brasileira, que assistiu a algo sem precedentes: a rápida ascensão e queda de inúmeras fortunas. A noção de instabilidade e insegurança encontra aí sua primeira fresta.

De qualquer maneira, um fato é inegável: todo o período da chamada Primeira República foi marcado por um sem-número de convulsões políticas e sociais. São revoltas, levantes, tentativas de golpe a não mais acabar. Consolida-se também algo que funcionará como um fantasma: a tendência ao separatismo.[5] Basta abrir qualquer livro de história do Brasil para que se fique espantado com o número de convulsões sociais que aconteceram nessa época. Tome-se como exemplo um autor que não prima pelo pessimismo e que até tende a ter uma visão rósea da realidade: Pandiá Calógeras. Não há, praticamente, uma página sua, quando trata desse período, em que não haja o registro desses fatos.[6]

Essa situação ao longo da Primeira República é, sem dúvida, em grande parte, consequência da manutenção de um modelo econômico — o agroexportador —, de um lado. Esse modelo, como se sabe, vai progressivamente gerando cada vez mais problemas. A desvalorização do café é, em geral, progressiva. A crise de superprodução (e a solução só na aparência esdrúxula: sua queima) implicou um conjunto de intervenções governamentais que só adiaram o problema. Esse modelo tinha como consequência a preeminência social e política de uma elite agrária que dominava, no sentido mais estrito do termo, a sociedade. Os partidos políticos eram estritamente regionais e totalmente manipulados por essa oligarquia agroexportadora. Os escândalos eleitorais sucedem-se e todos sabiam que as eleições não passavam de uma grande farsa. Com o decorrer do tempo, esse controle vai se tornando cada vez mais difícil. Werneck Sodré exprime isso muito bem quando diz que “para exercer seu domínio político a classe senhorial deve manter esse mecanismo político que lhe permite vedar as expressões de descontentamento”. No entanto, com o decorrer do tempo, esse bloqueio vai se tornando cada vez menor.[7]

Essa situação repercutirá, em particular, sobre a classe média, que está em expansão e será a única capaz de elaborar, bem ou mal, uma espécie de ideologia alternativa. Em primeiro lugar, deve-se considerar que, do ponto de vista econômico, a estrutura e o modo como ela funciona não lhe são favoráveis. A depreciação cambial do último decênio do século, diz Furtado, criou uma forte pressão sobre as classes assalariadas,[8] aí incluída a classe média. Em segundo lugar, do ponto de vista social, isso tem repercussões imediatas. Em terceiro lugar, do ponto de vista político, a descrença no regime instalado cresce cada vez mais. Atinge-se a situação em que, de um lado, a classe média cresce em importância e, de outro, é ela que é diretamente afetada por essa mesma situação. Citemos novamente Celso Furtado: “Durante esse período, […] os grupos que exerciam pressão sobre o governo central tornaram-se mais numerosos e complexos. Assinalamos a importância crescente da classe média urbana, dentro da qual se destacava a burocracia civil e militar, diretamente afetada pela depreciação cambial”.[9]

A isso deve adicionar-se o embate no interior da própria classe dominante, na qual havia setores interessados em neutralizar a preponderância do setor cafeeiro.[10]

Outro fator ainda deve ser levado em conta para que se tenha um quadro mais completo. Ele consiste no seguinte: certos quadros ideológicos reprimem ou liberam certas tendências presentes nos sujeitos. É inútil pensar, seja no nível em que se quiser, que a natureza humana pode ser inteiramente moldada. Uma estrutura econômica, social, política e mesmo ideológica pode facilitar ou atravancar certas inclinações naturais. Durante séculos a Igreja condenou a usura, o lucro desenfreado etc. Isso não significa dizer que essa avidez não existisse, mas enquanto a Igreja mantinha a ideologia dominante esta última serviu de freio para essa tendência. Podemos, com a devida cautela, aplicar essas observações para a história brasileira, no momento da passagem da Monarquia para a República. Por mais que a ideologia liberal estivesse presente na primeira, não era dominante. O sistema de valores era outro, e a paixão do lucro, o individualismo, a atomização, o self-made man eram coisas alheias ao ideário do Império. A república vem exatamente, pelo menos em tese, consagrar essa mentalidade. O liberalismo burguês é aceito sem reservas. Poucos autores foram sensíveis a essa mudança. Um deles foi Caio Prado, numa bela página de sua história econômica:

Mas a República agiu como um bisturi num tumor […]; rompeu bruscamente um artificial equilíbrio conservador que o Império até então sustentara, e que, dentro de fórmulas políticas e sociais já gastas e vazias de sentido, mantinha em respeito as tendências e os impulsos mais fortes e extremados que, por isso, se conservavam latentes. Estes se fazem sentir então com toda sua força longamente reprimida, abrindo perspectivas que a monarquia conservadora contivera ou pelo menos moderara muito. No terreno econômico observamos a eclosão de um espírito que, se não era novo, mantivera-se no entanto na sombra e em plano secundário: a ânsia de enriquecimento, de prosperidade material. Isto, na Monarquia nunca se tivera como um ideal legítimo e plenamente reconhecido; o novo regime o consagrará.[11]

Se tentarmos formar um quadro sintético sobre o conjunto dos fatores econômicos, políticos e ideológicos que caracterizaram a emergência e o desenrolar da Primeira República, obteríamos algo da seguinte envergadura: aquilo a que se assiste é um país frequentemente sacudido por levantes e revoltas, muitos de caráter nitidamente separatista. Um país dilacerado por convulsões internas, onde impera ainda um modelo agrário-exportador (com predomínio do café), base econômica esta que vai progressivamente apresentando problemas de maior vulto. Assistimos também aos desenvolvimentos iniciais da industrialização, mas esta só vai ser realmente predominante no país nos anos 1950. Do ponto de vista político, temos, única e exclusivamente, partidos regionais, estritamente manipulados pela oligarquia agroexportadora, que sufoca ferozmente qualquer possibilidade de expressão que seja contrária aos seus interesses. A fraude eleitoral ou a manipulação das eleições (seja por artifícios ilegais, seja por artifícios legais) é praticamente uma regra, o que leva a uma profunda descrença na eficácia e representatividade de um tal sistema político, e daí a indiferença política. Do ponto de vista social, a classe média se expande — trabalhadores do comércio, profissionais liberais, militares etc. Classe esta que é a que mais sente a grande mutação por que se está passando. Objetivamente, porque é a mais diretamente atingida pelas flutuações da política econômica, e, subjetivamente, porque todos os laços tradicionais de sustentação e manutenção do tecido social estão se esgarçando, em virtude da consolidação de uma nova mentalidade, que se expressa através de um esforço dos valores individualistas, em que a felicidade passa a ser uma questão de mérito pessoal, que se consegue mediante o aumento dos bens materiais. O lucro passa a ser o fim explícito das atividades do sujeito. A partir de um quadro razoavelmente rígido de valores tradicionais passa-se, em pouco tempo, a uma mentalidade mais individualista, mais competitiva, na qual a estabilidade social constitui um problema a cada momento. Na qual, enfim, as relações tradicionais com relação à pátria, as relações de classe e mesmo as familiares têm de ser repensadas. Sem dúvida alguma, a classe que terá mais consciência de tudo isso será a classe média, e é sobretudo a partir dela que se esboçará a reação ideológica.

Para essa classe média fica claro:

1) que o país vive numa convulsão constante, com ameaça evidente de sua unidade (via separatismo);

2) que ela não participa efetivamente do processo político nem das decisões políticas, que são frutos dos conchavos entre os grandes;

3) que ela, enquanto classe, está constantemente ameaçada, portanto, seja no plano econômico, seja no plano social;

4) começa ela, enfim, a esboçar um ideário (que é uma reação contra esse estado de coisas), que vai estar voltado fundamentalmente para sua efetiva representação política, e para uma exigência cada vez mais exacerbada de justiça, de moralidade pública e privada. H. Trindade diz, com muita felicidade, que “seu programa pode ser resumido no slogan: ‘Representação e Justiça’”.[12]

Colocando a questão sob um ângulo ligeiramente diferente, pode-se dizer que, para essa classe média em expansão, a passagem da Monarquia para a República, tal como se concretizou efetivamente, de uma forma problemática, significou a passagem de um mundo onde ela, pela estabilidade, tinha um sentimento de segurança. Os sujeitos percebiam mais ou menos claramente que pertenciam a um sistema social estável no qual tinham um lugar definido e claro. É exatamente o oposto que se delineará com o advento da República: passa-se a um estado de insegurança, problema que, por razões diferentes, não tem a mesma incidência sobre as classes altas e baixas.

No plano político isso era muito claro, e vale aqui uma observação de H. Arendt: “[Adquire-se a] noção de que as esperanças partidárias eram vãs; que consequentemente os mais respeitados, eloquentes e representativos membros da comunidade eram néscios e que as autoridades constituídas eram não apenas perniciosas mas também obtusas e desonestas”.[13]

É por esse caminho, levando-se em conta todos esses fatores, que se pode tentar entender o estado mental dessa classe social: um sentimento de desimportância, de instabilidade, de insegurança, de falta de ancoragem objetiva. Daí o anseio, que brota no interior dessa classe, a necessidade de uma profunda mudança na sociedade, em praticamente todos os seus níveis. A desconfiança em relação ao novo modelo cresce cada vez mais e, sobretudo, em relação ao que constitui seu núcleo ideológico: o liberalismo.

Duas tendências, então, começam a se delinear e a se cristalizar nesse cenário: em primeiro lugar, a emergência, cada vez mais forte, de um tema nacionalista, que conterá dois subtemas: o primeiro deles é a necessidade de uma nação una, unificada, harmoniosa, que não sofra periodicamente convulsões. Para isso será necessário começar a pesquisar a verdadeira base sobre a qual se constitui a nação. O segundo subtema é a emergência, neste caso mais lenta, de algo que está quase sempre embutido no nacionalismo: a oposição ao externo, a tudo que é exterior, exógeno.

A segunda tendência será a lenta cristalização de um pensamento ou ideário autoritário-conservador. Para esse pensamento não se tratará, é claro, de propugnar a volta pura e simples do regime monárquico mas sim de repensar a República forte, que escapasse exatamente destas tão flagrantes deficiências da República liberal. Sem dúvida, o pensador que melhor exprimiu essa tendência foi Alberto Torres, cuja influência sobre as gerações posteriores foi enorme. Publica, em 1914, dois livros que serão, durante bom tempo, o ponto a partir do qual se procurou pensar e, sobretudo, repensar a realidade brasileira. São os seguintes livros: O problema nacional brasileiro[14] e A organização nacional.[15]

O ideário de A. Torres, em poucas palavras, já que este não é nosso objetivo aqui, pode ser resumido nos seguintes pontos:

1) necessidade de organização, na medida em que o país é visto como desorganizado e isso emperra seu bom funcionamento;

2) nacionalismo, isto é, necessidade, a partir de suas raízes, de uma consciência nacional sólida e coerente. Deve-se recusar a importação de bens e ideias que não correspondam à nossa realidade;

3) contra o excessivo poder conferido às unidades regionais (os estados), prega a necessidade de uma forte centralização e de um Executivo forte;

4) prega também o corporativismo, na medida em que o sufrágio universal é uma farsa. A representatividade deve se dar através das diferentes corporações;

5) defende a ideia de que o Brasil é um país essencialmente agrícola; prega, portanto, um ruralismo.[16]

Não é difícil perceber que as bases fundamentais de uma ideologia conservadora estão lançadas, e ela tenta responder tanto aos problemas reais como aos anseios subjetivos de determinados setores da população. De qualquer maneira, quem vai, nos parece, saber melhor combinar e usar esse conjunto de temas será, sem dúvida, o discurso integralista.

3

Os anos 20 nada mais farão que aguçar esse conjunto de problemas que apontamos atrás. Mas alguns elementos novos merecem ser destacados, mesmo que rapidamente:

1) a fundação do PCB (1922), que, embora tenha sido um partido, nessa época, razoavelmente inexpressivo em termos de número de adeptos, representou, sem dúvida, uma tentativa de organizar o movimento agrário. Por outro lado, alguns militantes do PCB começam a esboçar uma análise muito bem fundamentada dos fenômenos econômicos, sociais, políticos e ideológicos da realidade brasileira;

2) a aparição do tenentismo, fenômeno diverso, complicado, de difícil captação e teorização. Isso se deu em parte porque os seus próprios agentes — os militares — “procuravam agir muito e falar pouco”, deixando assim muito pouco material para os estudiosos. De qualquer maneira, seu ideário não nos parece ter estado muito longe da divisa que reproduzimos algumas páginas atrás: “Representação e Justiça”;

3) não se deve esquecer também a eclosão da Semana de Arte Moderna. É claro que é um erro tentar ver no modernismo apenas um movimento de renovação estética. Ele foi isso, sem dúvida, mas foi muito mais. Suas intenções nacionalistas são inegáveis. Por outro lado, suas ramificações ou incidências políticas apareceram desde cedo, sabemos, com o aparecimento de ramificações à direita (verde-amarelismo) e à esquerda (Antropofagia). Já em 1924, segundo W. Martins, “o modernismo opta pelo rumo nacionalista contra o cosmopolitismo, primitivo contra o artifício, sociológico contra o gratuito”.[17] Afrânio Coutinho faz questão de frisar que se trata de “uma geração revolucionária, tanto na arte como na política. Seu objetivo é a demolição de uma ordem social e política fictícia, colonial, uma arte e uma literatura artificiais, produzidas à custa da imitação estrangeira, desligada da realidade nacional”.[18]

Estou insistindo no movimento modernista porque, aos olhos de Plínio Salgado, foi esse movimento que o “despertou”, digamos assim, para os verdadeiros problemas. Com efeito, nascido no fim do século passado numa cidade do interior paulista, vai para a capital, onde passa a trabalhar no Correio Paulistano (jornal do PRP) como redator. Plínio emerge com o movimento modernista, que acompanha e do qual participa. Filia-se a uma das facções do modernismo — o movimento verde-amarelo, de tendências nitidamente nacionalistas e conservadoras. Publica em 1926 o romance O estrangeiro, muito bem recebido pela crítica e que, sem dúvida, é o seu melhor romance (escreveu depois: O esperado [1931], O cavaleiro de Itararé [1933] e A voz do Oeste [1934], nos quais a qualidade literária é inferior e hoje só são lidos por quem se interessa pelo seu pensamento). Em 1927 publica “A anta e o curupira”, uma espécie de manifesto literário-político, e, no mesmo ano, Literatura e política, uma série de ensaios nos quais praticamente todos os temas do integralismo são aflorados. A propósito de Literatura e política Plínio Salgado escreveu, para uma reedição do texto nos anos 50, o seguinte: “Este pequeno livro foi editado pela primeira vez em 1927. Agora, 29 anos depois, causa surpresa ao seu próprio autor, que encontra em suas páginas todo o processo de formação do pensamento com que se apresentou em 1932 o Integralismo Brasileiro”.[19] E, rigorosamente falando, Plínio está certo: esse pequeno livro contém o núcleo de suas primeiras ideias, tais como a necessidade da aliança entre literatura e política, a valorização do Brasil rural, autêntico, em contraposição ao litoral e à cidade artificial, mecanizada, europeizada. Nele encontramos também esboçadas as principais críticas que Salgado elabora contra a ideologia liberal, tal como a crítica ao sufrágio universal. Está presente também no livro a necessidade, que é quase uma obsessão em Plínio, da formação de uma opinião nacional, base para qualquer programa de reconstrução. Da mesma forma encontramos uma séria crítica ao separatismo e a necessidade da união nacional. Em resumo, de uma forma rapsódica, é verdade, encontramos quase todos os temas que constituirão o Leitmotiv da doutrina integralista.

Em 1930 Plínio Salgado faz uma viagem ao exterior que é bom mencionar na medida em que, quando na Europa, estuda — entre outras coisas — o fascismo e tem um encontro com Mussolini. Desde essa época Plínio elogia muitos aspectos do fascismo italiano, sobretudo o fato de ter instaurado um Estado forte e restaurado a ordem. Mas também não deixa de tomar distância com relação ao mesmo. Sua atitude não é nem de adesão total, nem de recusa total. Já na época em que estava em Milão, escreveu uma carta a um amigo, onde dizia: “Tenho estudado muito o fascismo: não é exatamente esse o regime que precisamos aí, mas é coisa semelhante”.[20] Na mesma carta, no entanto, afirma: “Aliás, minha orientação não teve nenhuma influência fascista”.[21]

Ao voltar ao Brasil, estoura a Revolução de 1930. Já na Europa Plínio havia esboçado um documento que seria a base de suas ideias político-sociais. Percebe, segundo seu próprio depoimento, o caráter liberal da Revolução de 30 e espera o desenrolar dos acontecimentos. Mas não permanece inativo. Em 1931, funda e dirige o jornal A Razão, onde publica, anonimamente, uma coluna diária, até a deflagração da Revolução Constitucionalista em 1932, quando o jornal foi incendiado. Publicou mais ou menos trezentos artigos, e esses textos são de vital importância porque, se desde algum tempo Plínio Salgado tinha claras as linhas distintivas de seu pensamento sociopolítico, será nesses artigos que irá aprofundar e analisar com mais detalhe diferentes temas. Boa parte desses artigos Salgado publicou, posteriormente, em livros como O sofrimento universal (que é o melhor conjunto de textos sobre a concepção pliniana do capitalismo) ou Despertemos a nação.

Nesse mesmo ano de 1932 funda a Sociedade de Estudos Políticos, que foi o embrião da Ação Integralista Brasileira. Entre seus “princípios fundamentais”, redigidos por Plínio, lemos o seguinte:

Somos pela unidade da Nação.

Somos pela expressão de todas as suas forças produtoras no Estado.

Somos pela implantação do princípio da autoridade, desde que ele traduza as forças reais e diretas dos agentes da produção material, intelectual, e da expressão moral de nosso povo. […]

Somos contrários a toda tirania exercida pelo Estado contra o Indivíduo […]; somos contra a tirania dos Indivíduos contra a ação do Estado.[22]

Redige, ainda em maio de 32, o famoso Manifesto integralista, documento básico e central para compreender as suas orientações políticas. Por causa da irrupção da Revolução, o lançamento do Manifesto é adiado, sendo publicado em outubro e, por isso, ficou conhecido como o “Manifesto de outubro”. A partir daí, logo depois, a Ação Integralista Brasileira cristalizou-se como partido político.

4

Muito bem, neste ponto podemos perguntar: o que caracteriza, tanto do ponto de vista doutrinário como do ponto de vista organizacional, o integralismo? No que se refere à doutrina integralista, as dificuldades não são poucas, já que essas teses não se encontram muito bem ordenadas nem sistematizadas no conjunto da obra de Plínio Salgado. E ele escreveu muito (mais de sessenta livros). Pouco antes de morrer, em 1975, numa entrevista, a última que deu, ele dizia que abandonava de vez a política e queria organizar e sistematizar seu pensamento, coisa que nunca tivera tempo de fazer. Isso, por outro lado, não significa dizer que sua obra seja um caos. Existem, claramente, linhas definidas, arquiteturas elaboradas, e, vez por outra, o leitor intui ou vislumbra as matrizes principais. Dados os limites deste texto, tomo a liberdade de tentar expor as linhas gerais do integralismo por temas e não geneticamente, como seria mais desejável.

Há, nos parece, dois pontos originários, sobre os quais se desenrola todo o pensamento integralista. O primeiro deles é uma crítica radical ao Estado liberal e ao comunismo, comunismo que, segundo Plínio, nada mais é do que uma consequência, um desdobramento do liberalismo. Pessoalmente, acho que essas páginas de Salgado são as mais interessantes e as mais profundas que escreveu. É um tema que percorre sua obra, de ponta a ponta. De Literatura política (1927) até Espírito da burguesia (1951), as linhas gerais e o tom da crítica são exatamente os mesmos. O ponto alto nessa série de produções está, parece-nos, no livro O sofrimento universal (1934). Plínio Salgado é um pensador cristão e conservador. Ou melhor, um cristão conservador. Isso jamais deve ser esquecido, quando o lemos. Todas as suas análises só adquirem seu pleno sentido levando-se em conta esse estofo espiritualista. É dessa ótica que Plínio Salgado lê a civilização moderna, que para ele nada mais foi do que a consagração de um individualismo extremado, que levou os sujeitos a erigirem o lucro, a riqueza, o bem-estar material e o prazer como sendo as finalidades supremas do homem, onde estaria sua felicidade. Trata-se do predomínio da concepção materialista da vida:

O materialismo do nosso tempo não proveio das classes trabalhadoras; sua origem é burguesa. Sustentado pelos filósofos […] sob o império do experimentalismo científico, o materialismo é a doutrina que apareceu como justificativa da livre expansão do homem nos atos de conquista e de gozo dos bens terrenos.[23]

Nessa sociedade onde o que verdadeiramente impera é a luta pelo sucesso pessoal, acabamos por ver dois polos se concretizarem: os detentores do capital, cada vez mais ávidos, e o trabalho ou os trabalhadores, cada vez mais espoliados e vilipendiados. A análise que Plínio faz da sociedade contemporânea, embora pautada em última instância pela moral cristã, é muito semelhante, em vários pontos, às análises socialistas. Num livro escrito em 1931 (O que é o integralismo), Salgado diz que o instrumental crítico, oriundo do socialismo, é muito eficaz para desnudar a civilização burguesa.

Por outro lado, dentro da ótica burguesa-capitalista, o Estado deve ser o Estado mínimo. Aquele que assiste passivamente ao jogo natural das forças produtivas, esperando que tudo caminhe para o bem. Assim, o Estado liberal é o principal responsável — por sua passividade — pelo conjunto de contradições e problemas da nossa sociedade: maquinismo, desemprego, superprodução etc. etc.

E, dentro dessa ótica, o comunismo é um problema relativamente secundário. Não que Plínio nutrisse alguma paixão pelo marxismo. Ele é visceralmente antimarxista e escreveu páginas e páginas com duríssimas críticas a ele. Mas façamos justiça ao autor: do começo ao fim, Plínio sempre afirmou que o comunismo nada mais é do que a consequência lógica do capitalismo e que o essencial é a crítica e a destruição da sociedade capitalista. Que isso fosse dito nos anos 20 ou 30 é até explicável, dada a relativamente pouca expressão do comunismo no Brasil. Mas, depois da Segunda Guerra, com a instauração da Guerra Fria e do fantasma do comunismo? Mas é exatamente o que Plínio diz nos anos 50:

É o comunismo o mal do nosso século? Como adversário leal e franco da doutrina marxista, ouso dizer que o comunismo não é o mal do século, porque antes dele existe um outro mal de que ele se origina. Esse mal é o espírito burguês. Se desejamos combater o comunismo […] nossa primeira atitude será a de combate contra a concepção de vida da burguesia.[24]

O mal do século, portanto, é o capitalismo que, se deixado livre, levará o mundo a uma ditadura dos técnicos econômicos, à escravidão da humanidade.[25] É por isso que, salvo para essa minoria privilegiada, a vida e a existência, nessa época de domínio da máquina, aparecem como insuportáveis, um “fardo exasperante”. Esse o sentido do sofrimento universal.

Dessa crítica emerge naturalmente a ideia da necessidade de um Estado forte, que organize e harmonize a sociedade, orientada por princípios morais e espirituais. “Ou os governos se fundamentam nos princípios de ordem moral, cultural, espiritual, e, em nome deles, empolgam, dominam e subjugam todas as forças econômicas […], regulando a produção, a circulação e o consumo; [ou virá o inelutável]”.[26]

A ideia integralista de Estado, portanto, consubstancia-se na ideia de um agente que regula a vida dos grupos e indivíduos. É ele quem produz a harmonia e o equilíbrio: “Sua origem, como centro de aspirações, de harmonia e de equilíbrio; sua finalidade, como realização de justiça social; sua missão, de interferente, de centro de colaboração, de estímulo, de subordinação de forças esparsas a um condicionador nacional, de supervisionador […]”.[27]

O essencial é compreender que o Estado integralista deve estar longe e livre de qualquer princípio de divisão: partidos políticos, regionalismo, luta de classes etc. Daí o porquê de Plínio Salgado se insurgir contra os partidos e propor a existência de um partido único, que se preocupe com o bem-estar da sociedade e dos indivíduos. Como não deve haver partidos, os grupos de indivíduos devem se fazer representar, tanto no nível municipal como no estadual e no federal, através de suas corporações. Teremos assim assembleias ou câmaras, onde os diferentes setores da sociedade (tecelões, médicos, professores etc. etc.) estarão representados e se farão ouvir.

Desse modo, não é muito difícil imaginar a sociedade e o Estado tal como os concebeu Plínio Salgado. A base natural da sociedade é a família e a propriedade. O trabalho tem a finalidade de produzir e gerar os bens da sociedade, sociedade esta que deve controlar, regular e reger todas as fases do processo econômico, para daí haver uma justa distribuição dos bens. Esse controle é exercido pelas câmaras corporativas, que vão se escalonando como uma pirâmide, até chegar ao chefe de Estado, autoridade suprema.

A segunda vertente do discurso integralista, sobre a qual me detenho bem menos, em virtude das finalidades deste texto, é o nacionalismo. Existe uma profunda convicção em Plínio de que existe um espírito, uma alma genuinamente brasileira que foi perdida. Essa alma, esse espírito, Plínio Salgado acredita encontrar no interior, no sertão, na figura do caboclo, síntese e expressão do genuíno espírito nacional e fusão das raças nacionais. Daí Plínio elaborar uma dicotomia entre o urbano e o rural. A cidade é o lugar e a expressão da civilização burguesa, objeto de sua crítica feroz. Mais: o espírito urbano é um espírito importado. Agimos e pensamos na cidade segundo padrões e teorias estrangeiros. Nada ou quase nada é autêntico na vida urbana. Se quisermos captar o verdadeiro espírito brasileiro, é preciso olhar e sentir o interior, o sertão. É lá que descobriremos a verdadeira alma brasileira. E Plínio Salgado acreditava piamente que tinha intuído e apreendido essa verdadeira sentimentalidade brasileira, através da qual é possível reconstruir a unidade, a harmonia nacional. Personificando o espírito nacional no “curupira”, esse personagem do nosso folclore, Salgado, em 1927, de maneira metafórica, é evidente, termina assim o texto de “A anta e o curupira”:

Mais do que símbolo nacional, símbolo humano […] — o curupira há de descer um dia do sertão, lá onde está a voz que chama, acompanhado dos seus milhões de pirilampos, escoltado pelas hordas dos catitus e das capivaras, montando a anta, seu cavalo e totem da raça tupi, para a invasão das cidades e a grande revolução do pensamento nacional […] Só então será proclamada nossa independência mental, já claramente esboçada, e teremos uma arte humana e universal, possuindo uma política brasileira com raízes profundas na terra americana e na alma da Pátria.[28]

Plínio Salgado acredita que a captação dessa essência do sentimento nacional é a condição para que se possa pensar a nossa unidade nacional que, respeitando as diferenças regionais, expressa, no entanto, um todo harmonioso e coerente. É exatamente aqui que se encontra a raiz do nacionalismo pliniano. É dessa vertente que podemos extrair, também, a ideia de uma sociedade brasileira, voltada para suas próprias raízes, organizando-se desse modo e, se possível, independendo dos valores exógenos. O que nasce aqui é a ideia de um Brasil orgânico, harmonioso e, na medida do possível, autárquico.

Essas são, em linhas gerais, as concepções de Plínio, não esquecendo, no entanto, que tudo isso é guiado e orientado por um profundo espiritualismo cristão, que constitui o fundamento último de suas concepções.

Por esses traços já podemos delinear algumas das características principais desse discurso:

1) em primeiro lugar, ele tem um tema mobilizador: essa violenta crítica do liberalismo (e do comunismo) é um tema que perpassa todos os níveis: o econômico, o social, o político, o moral e o cultural. Vivemos numa sociedade que está permanentemente dilacerada, infeliz. Vivemos num estado de crise permanente. Essa imagem da crise (muito bem trabalhada por M. Chauí no seu estudo) é um mobilizador constante. Faz com que a necessidade de um trabalho permanente de reorganização e educação seja um imperativo constante;

2) em segundo lugar, esse discurso é confortador, é reconfortante: ele oferece ao sujeito um corpo de doutrinas e de palavras de ordem que apontam exatamente para os seus próprios problemas. E ele se endereça, intencionalmente, ao homem comum, trazendo uma mensagem de amparo: “O integralismo surge como a única força capaz de implantar a ordem, a disciplina. A única força capaz de amparar o homem, hoje completamente esquecido pelo Estado liberal burguês […]”.[29] Outro texto: “E isso é a liberal-democracia. O regime onde ninguém está garantido: nem o capitalista, nem o operário; nem o industrial, nem o comerciante, nem o agricultor. Compreende-se que, num regime assim, cada qual trate de se salvar por meio de aventuras pessoais […]”.[30]

O que Plínio Salgado propõe, e que, sem dúvida, fascinava e atraía a classe média, é um Estado forte, mas forte porque exprime e resolve os problemas e as inquietações concretas das pessoas.

O Estado [integralista, bem entendido] passa a ser o Grande Revolucionário, falando em nome das inquietações, dos desejos, das aspirações, dos sentimentos de justiça da nação. O Estado, assim, adquire uma autoridade nova, sobrepairando aos interesses de grupos sociais, políticos e econômicos. O Estado passa a ser o supervisionador, o mantenedor de equilíbrios, a concretização do ideal de justiça e de liberdade […].[31]

Como, de certa maneira, resistir a esse apelo que promete justiça e equidade a todos? O Estado liberal aparece então como o lugar do individualismo, da competitividade, da possibilidade do fracasso para cada um. O Estado integralista aparece como esse imenso dispositivo de segurança que garante um lugar na sociedade a cada um, que expressará justamente seus anseios. Como resistir a tal apelo?, repetimos. É atrativo, não resta dúvida.

A imagem que é transmitida, portanto, é a de uma nação com um Estado forte mas protetor, que garante a unidade, a estabilidade e a segurança. Propõe-se uma sociedade totalmente nova, justa, onde todos estão representados e têm voz ativa.

5

Após essas considerações podemos tentar abordar a questão que foi um dos nossos pontos de partida, isto é, saber se o discurso integralista pode ser entendido como uma das formas ou variantes do fascismo e, sendo assim, a expressão ou uma das expressões do irracionalismo contemporâneo. Relembremos apenas que a tese positiva, embora largamente difundida, está longe de ser unanimidade entre os especialistas.

O que complica enormemente a questão é o fato de que não existe uma concepção unanimemente aceita sobre o fascismo. As opiniões divergem, e muito. Basta lançarmos um olhar para o livro de R. de Felice, sobre a interpretação do fascismo,[32] para que percebamos essa multiplicidade, seja com relação ao fascismo em geral, seja com relação ao fascismo italiano em particular, com o qual o integralismo brasileiro teria maiores afinidades. Diante desse impasse, talvez o melhor caminho seja indicar os pontos nos quais frequentemente se vê uma concordância entre o fascismo e o integralismo. Esses pontos principais, parece, são os seguintes. Ambos se alicerçariam numa ideologia anti-intelectualista e irracionalista. Disso decorreria uma concepção autoritária do Estado e, também, uma concepção absoluta do chefe. Trata-se de uma concepção na qual o fazer tem prioridade sobre o pensar e a ação sobre a razão. Teria, enfim, como uma de suas bandeiras máximas uma concepção ultranacionalista.

Aparentemente encontramos todos esses elementos na doutrina elaborada por Plínio Salgado. Se a isso tudo aliamos o fato de que se tratou de um movimento rigidamente hierarquizado que no seu programa inclui um vasto sistema de iniciação, extremamente rígido, que vai desde a infância até a idade madura, permeado por um conjunto de rituais, juramentos, solenidades que cobrem a existência do sujeito desde seu nascimento até sua morte, as semelhanças, sem dúvida, aumentam. Existiu, ao que parece, no integralismo, o projeto de um controle rígido da vida dos sujeitos sustentado externamente por todo um aparato de símbolos, de gestos (saudações etc.), de imagens, bandeiras etc. que fizeram do movimento algo muito semelhante aos movimentos fascistas.

Mas, pensando tudo cuidadosamente, podemos duvidar dessa aproximação, na medida em que ela, muitas vezes, parece incidir mais sobre a superfície dos fenômenos do que sobre seu real significado. Tomemos, em primeiro lugar, a ideia de uma concepção anti-intelectualista e irracionalista da realidade. Um dos fortes pontos de apoio com relação a essa tese — Chasin insiste muito neste ponto — estaria numa concepção intuicionista da realidade, que estaria presente no discurso de Plínio Salgado. Daí, um ponto de partida não racional. De fato, esse intuicionismo está presente quando Plínio Salgado julga ter apreendido intuitivamente a essência da alma nacional brasileira e ter encontrado a chave que decifraria seus mistérios. Não restam dúvidas de que, em vários momentos, Plínio apela para essa intuição original que teria tido. Outro elemento não racional desse discurso estaria no fato de que remete, como fundamento último de suas concepções, a um espiritualismo cristão.

Mas, esses dados são suficientes para caracterizar o integralismo como uma concepção irracionalista e anti-intelectualista? Não creio. O fato de um discurso apoiar-se numa intuição original não é suficiente para caracterizá-lo como irracional. A história das ideias nos fornece abundantes exemplos. Uma coisa é partir-se de uma intuição e afirmá-la monotonamente, outra é procurar progressivamente desvelá-la e explicitá-la num discurso inteligível. Ora, foi, sem dúvida, o último caminho que Plínio tentou. Pouco importa se fez isso com sucesso ou não. Se as razões que aduz são convincentes ou não. O que importa é a intenção, que atravessa esse discurso, de explicitar racionalmente suas teses. O que menos se encontra nesses textos é uma apologia sistemática da vida, do fundo irracional da existência. Ao contrário, pretende ser e é um discurso que se quer razoável e coerente. As suas teses não aparecem na forma de um decálogo que se lê e se aceita ou nega. Ele expõe suas razões. Fornece argumentos.

Aliada a esse último tópico aparece frequentemente também a tese de que o discurso integralista seria extremamente superficial, pouco argumentando e mais afirmando do que provando. Essa objeção não deixa de ter sua validade, mas é preciso contextualizá-la. Vivemos há mais de quarenta anos sob outro clima intelectual. A fundação e a expansão das universidades trouxe-nos outra ideia do que é um estudo documentado, uma tese com provas e fundamentações. Nosso regime discursivo é, sem dúvida, bem mais exigente. Mas, se voltarmos nossa atenção para a produção intelectual brasileira nos primeiros quarenta anos deste século, veremos que as coisas se passavam de forma bem diferente. Antonio Candido num estudo notável[33] mostrou que foi a literatura e o gênero “ensaio” que serviram de instrumentos principais para expor as ideias. Num momento — diferente do nosso — em que era impossível formar “pesquisadores, técnicos, filósofos”,[34] foi por essa via que nos exprimimos.

Não será exagerado afirmar que essa linha de ensaio — em que se combinam com felicidade maior ou menor a imaginação e a observação, a ciência e a arte — constitui o traço mais característico e original do nosso pensamento. Notemos que, esboçada no século XIX, ela se desenvolve principalmente no atual, onde funciona como elemento de ligação entre a pesquisa puramente científica e a criação literária, dando, graças ao seu caráter sincrético, uma certa unidade ao panorama de nossa cultura.[35]

Assim, dada essa característica da produção intelectual brasileira da época, é preciso concordar, mas também situar o argumento exposto acima, como notamos. O discurso de Plínio Salgado nada mais faz, em suas linhas gerais, do que seguir as linhas gerais da época, e a tese é tão válida para sua produção como para a de um Gilberto Freire ou um Sérgio Buarque de Holanda.

Passemos ao outro polo da questão, isto é, ao nacionalismo ou ao ultranacionalismo pregado pelo discurso integralista. Aqui também é preciso muita cautela. De um lado, esse nacionalismo presente no integralismo é a extensão de uma corrente já presente no movimento intelectual brasileiro desde a década de 1910. Ele é, em grande parte, uma tentativa de resposta direta ou indireta aos problemas que o país atravessa (convulsões sociais, separatismo etc.). Por outro lado, o nacionalismo enquanto tal, por si só, é insuficiente, como é fácil de ver, para caracterizar uma doutrina como fascista ou antifascista. É todo um conjunto de fatores que o determina como tal e é isso que estamos tentando avaliar. De qualquer maneira, se há uma exaltação no discurso integralista da nação, da pátria etc., isso, nos parece, nunca chegou às beiras de um misticismo cego.

Tomemos, ainda, outro elemento, ou seja, a concepção autoritária do Estado. Aqui minha tarefa é facilitada, e muito. Chasin, no estudo acima citado, demonstrou de forma absolutamente convincente que, para Salgado, o Estado não está acima do indivíduo, que não existe uma “razão” de Estado que se imporia heteronimamente aos indivíduos. De fato, sobre esse ponto, Plínio Salgado é cristalino: o Estado é um instrumento para a realização dos indivíduos. Contento-me com algumas citações:

A autoridade do Estado, levada à extrema consequência, redunda no aniquilamento do indivíduo e no predomínio exclusivo de alguns indivíduos, pretensos representantes das massas.[36]

Sendo o Estado uma criatura do homem, significa que o homem é maior que o Estado […] O Estado é o instrumento mediante o qual o homem ordena juridicamente a nação. Portanto o instrumento do homem não pode dominar o homem.[37]

O mais curioso, para não dizer o mais picante, é o fato de que Plínio Salgado condena explicitamente o Estado fascista, porque este último sobrepõe o Estado ao indivíduo.

Com relação ao último ponto, é verdade que a concepção integralista do chefe vê este como intangível e inquestionável. Seus comandos estão acima de qualquer discussão. Mas, por razões que ficarão claras mais adiante, deixaremos a discussão deste ponto para logo mais.

De qualquer maneira — se excetuarmos exatamente esse último ponto — é difícil afirmar que o integralismo seja uma forma ou variante da ideologia fascista. Mas, nem por isso as dúvidas se dissipam. Façamos então o seguinte (a título de contraprova): invertamos a questão e perguntemo-nos em que o integralismo difere do fascismo. Mas coloquemos essa questão não de fora, mas do interior mesmo do discurso integralista. Tomemos o seguinte texto: “Essa obra de educação é que nós chamamos de ‘revolução espiritual’ e é em razão dela que nos distinguimos tanto do fascismo como do hitlerismo, imprimindo um sentido profundo ao nosso movimento”.[38]

O que torna difícil uma boa avaliação da afirmação acima é que seria necessário ter uma ideia clara do funcionamento real e concreto do Estado integralista, e isso nunca saberemos, porque tal Estado nunca se efetivou. Mas, aproveitando uma preciosa indicação de H. Trindade, podemos atingir isso por outro viés. Esse autor nos mostrou que o movimento integralista, na sua estrutura e organização, acabou por criar e por funcionar como um sistema semi ou paraestatal. Esse movimento funcionou como uma espécie de Estado dentro do Estado:

[Esse] Estado integralista em potencial, implantado no seio do Estado brasileiro, é muito mais do que um “contragoverno” ou gabinete da oposição; ele funciona como um verdadeiro Estado totalitário que possui não somente uma ideologia de Estado e uma estrutura autoritária, mas utiliza-se de meios estatais, como de um aparelho burocrático interno, de Forças Armadas paralelas (a Milícia), de uma política de socialização e de reeducação dos militantes e de uma legislação própria […] assim como de um tribunal e de um corpo de “magistrados” para julgar as ações de seus membros.[39]

Assim, pode-se dizer que a Ação Integralista Brasileira funcionava como uma espécie de microssociedade diferenciada, que incluía um aparato estatal. Como ela funcionava? Naquilo que diretamente nos interessa, existe um capítulo muito elucidativo no livro Doutrina do Sigma no qual Plínio opõe aos descalabros, à desordem do Estado liberal, as realizações efetivas do movimento integralista. O capítulo intitula-se “O problema da ordem”. Seria, na verdade, necessário analisá-lo por inteiro para perceber com clareza a natureza do projeto integralista. Dados os limites deste texto, vamos nos ater a dois pontos: o problema da ordem espiritual e o da ordem sentimental. No que concerne ao primeiro ponto, Plínio Salgado diz o seguinte: “Como se pode obter a ‘ordem espiritual’? Pela doutrinação, pela propaganda, pela educação constante, paciente, das massas populares”.[40]

Em seguida, pergunta-se sobre o que o governo liberal está fazendo nesse sentido e responde, categoricamente: nada, absolutamente nada. O integralismo, ao contrário, ele sim, o faz.

Pois bem, o integralismo mantém […] cursos em cada um de seus núcleos, arrancando a massa popular dos erros com que a envenenam aqueles que recebem dinheiro do capitalismo internacional […].

[O integralismo] é a única força coordenadora das consciências no sentido da ordem espiritual e moral. Esta ordem espiritual e moral, nós a conseguimos pela criação de uma extraordinária unidade de pensamento e de sentimento que se exprime pelo mesmo ritmo de atitudes desde o Amazonas ao Rio Grande do Sul.[41]

Com relação à ordem sentimental, Salgado a caracteriza do seguinte modo: “A ordem sentimental está sendo criada pelo integralismo. Um ‘camisa-verde’ do Amazonas tem a mesma fisionomia interior, a mesma atitude afetiva e o mesmo instinto de solidariedade que seus irmãos do Rio Grande do Sul”.[42]

Esses textos mostram cristalinamente não só que o problema da ordem é central no pensamento de Plínio (como o é em todo pensamento tradicionalista e conservador), como também que ele se reduz a uma questão de unificação, de introdução de uma perfeita unidade espiritual, intelectual e sentimental. O artigo “Técnica de Sorel e Técnica de Cristo” funda-se exatamente na concepção de que a melhor maneira de conquistar os povos é através das ideias, do convencimento pelas ideias. É isso que diferencia a doutrina integralista. “Nossa vitória não virá em consequência de golpes técnicos, nem como resultado de conspiratas contra os governos constituídos; virá automaticamente, pela infiltração poderosa das ideias”.[43]

É por essa via, acreditamos, que podemos perceber com maior clareza a distância e a proximidade do fascismo com o integralismo. O discurso fascista instaura um discurso sustentado em dogmas, slogans e palavras de ordem nos quais raramente se tenta provar ou demonstrar. Parte de um imperativo que já é uma incitação à ação. Constitui também um Estado acima dos indivíduos. O Estado fascista raramente procura convencer, mas sim impor-se como algo acima do indivíduo e superior a ele, a quem dita as regras de conduta que não devem ser questionadas. Já o projeto de Plínio Salgado é, num certo sentido, muito mais amplo, muito mais ambicioso e muito mais totalitário. Ele quer e pretende convencer as pessoas da veracidade de sua mensagem. E, por isso mesmo, ambiciona que a autoridade brote do interior do próprio indivíduo e não como algo externo e heterônomo.

E é exatamente por isso, isto é, visto no interior dessa concepção, que, embora o integralismo tenha uma concepção autoritária do chefe, isso aos olhos de Plínio não tem a menor importância. E não tem mesmo, porque, numa sociedade onde todos são educados para pensar de forma uniforme, unitária, onde todos aprendem e se convencem a respeito da doutrina, que diferença pode existir entre o chefe e seus comandados, na medida em que todos sentem e pensam da mesma maneira?

Isso fica muito claro no célebre Elogio da ausência, no qual, por ocasião de uma solenidade onde Salgado era esperado, ele, intencionalmente, não compareceu e enviou uma carta em que afirma:

Não me tivestes convosco; tivestes, entretanto, a nossa ideia. Tivestes, no dia da vossa formatura, a sensação do adulto. Entre vós e o integralismo nada se interpôs. Minha presença daria à vossa festa o cunho de uma afetividade pessoal. Minha ausência deu a ela o cunho altíssimo de um culto ao Pensamento.[44]

Por isso mesmo afirma: “[…] não devíeis homenagear um homem, porém uma ideia”.[45]  E ainda: “[…] o integralismo é um estado de consciência, a força de um pensamento, […], contendo em si próprio os elementos de perpetuação […]”.[46] E, dada essa unidade, essa homogeneidade total de pensamentos e sentimentos, isso faz com que, na prática, não haja nem chefe nem chefiados. Ele está em todo lugar porque onipresente no interior de cada um e visto em qualquer lugar:

Camisas-verdes! Quando quiserdes ver o vosso chefe, olhai para os vossos companheiros. Quando quiserdes ouvir a voz do chefe, rufai vossos tambores, soprai vossos clarins. Quando quiserdes sentir o espírito do chefe, marchai, porque ele estará no rumor de vossos passos: os pensamentos andam como as pernas […] E, se nos recessos do sertão de nossa pátria, perdidos na floresta, na solidão e no silêncio, não tiverdes nem companheiro, nem tambor, nem clarim, nem bandeira e, mesmo assim, quiserdes ver o chefe, procurai, no espelho dos rios, das lagoas, dos igarapés e das restingas, a vossa própria imagem: e, se nos seus olhos rutilar essa fé que nos abrasa, nos destinos grandiosos do Brasil, tereis visto, no brilho dos vossos próprios olhos, a presença do chefe.[47]

Assim, o projeto integralista é, num certo sentido, muito mais ambicioso e muito mais totalitário que o projeto fascista. Ele pode, e de fato o fez, ter assumido algumas teses do fascismo mas, na sua essência,[48] ele foi algo muito mais ousado porque pretendeu, a partir do convencimento individual, realizar algo muito mais vasto: apagar totalmente as diferenças individuais produzindo sujeitos espiritual e sentimentalmente idênticos. Indivíduos que pensem e sintam da mesma maneira, reduzindo a diferença a nada ou a um residual desprezível. E queria conseguir tudo isso convencendo discursivamente as pessoas. Implantando, no seu âmago, a convicção de que assim pensam e agem da forma mais correta. Desse ponto de vista, se é permitida a expressão familiar, o fascismo é “café pequeno” frente ao projeto integralista. Ele pode, repetimos, como o fez, assumir teses fascistas. Pode também, como o fez, legitimamente, criticar o fascismo, e isso porque seu projeto é de alcance muito maior. O que ele sempre quis foi dominar totalmente os corações e mentes.

6

Para finalizar, diria que sob essa ótica o integralismo não se filiaria a nenhuma forma de irracionalismo, se se entender por esse termo a ideia de que a “chave” da existência humana está além ou fora do domínio da razão (como a “vontade” em Schopenhauer ou a “vida” em Nietzsche). Ele, na verdade, exibe a patologia da própria razão na medida em que expressa, em sua forma mais exacerbada, essa tendência da razão de tudo unificar, de tudo homogeneizar, de reduzir tudo à pura identidade. E por esse caminho a razão sempre acaba por apagar e anular a diferença, a particularidade, a individualidade singular. O integralismo seria, se realizado, a noite cinzenta da razão; porque não é difícil imaginar quão sombrio seria um mundo onde todos pensassem o mesmo, onde todos sentissem o mesmo, onde todos agissem uniformemente. Estamos, aqui, seguramente, no terreno das contrautopias modernas. E isso tudo, como quase sempre, sendo feito em nome da felicidade e da harmonia entre os homens!

Notas

[1] H. Trindade, Integralismo — o fascismo brasileiro na década de 30, São Paulo, Difel, 1979, p. 1.

[2] Idem, ibidem; G. Vasconcelos, A ideologia curupira (análise do discurso integralista), São Paulo, Brasiliense, 1979; J. Chasin, O integralismo de Plínio Salgado, São Paulo, Ed. Ciências Humanas, 1978; M. Chauí, “Apontamentos para uma crítica da Ação Integralista Brasileira”, in Ideologia e mobilização popular, São Paulo, Paz e Terra, 1978; R. Araújo, Totalitarismo e re volução (o integralismo de Plínio Salgado), Rio de Janeiro, Zahar, 1987.

[3] M. Chauí, op. cit., pp. 116-7.

[4] Por exemplo, C. Furtado, Formação econômica do Brasil, São Paulo, cen, 1967, p. 182.

[5] Idem, ibidem, p. 181.

[6] P. Calógeras, Formação histórica do Brasil, São Paulo, cen, 1966, pp. 316 ss.

[7] N. W. Sodré, Formação histórica do Brasil, São Paulo, Brasiliense, 1962, p. 314.

[8] C. Furtado, op. cit., p. 182.

[9] Idem, ibidem, p. 189.

[10] N. W. Sodré, op. cit., p. 321.

[11] Caio Prado, História econômica do Brasil, São Paulo, Brasiliense, 1945, p. 220. O texto continua assim: “Nenhum dos freios que a moral e a convenção do Império antepunham ao espírito especulativo e de negócios subsistirá; a ambição do lucro e do enriquecimento se consagrará como um alto valor social. O efeito disto sobre a vida econômica do país não poderá ser esquecido nem subestimado” (p. 221). Veja-se também, na mesma página, a censura a Mauá por defender os interesses privados.

[12] H. Trindade, op. cit., p. 17.

[13] H. Arendt, “Origens do totalitarismo”, III, in Totalitarismo, o paroxismo do poder, Rio de Janeiro, Ed. Documentário, 1979, p. 40.

[14] A. Torres, O problema nacional brasileiro, São Paulo, cen, 1978.

[15] A. Torres, A organização nacional, São Paulo, cen, 1978.

[16] Ressaltamos, nesse quadro sinótico, elementos que serão importantes no ideário integralista.

[17] W. Martins, A literatura brasileira, apud H. Trindade, op. cit., p. 29.

[18] A. Coutinho, A literatura no Brasil, p. 92.

[19] P. Salgado, Literatura e política, in Obras completas, São Paulo, Ed. Américas, 1956, p. 11.

[20] Carta a Manoel Pinto (4/7/1930), in Plínio Salgado, São Paulo, Ed. Revista Panorama, 1936, p. 19.

[21] Idem, ibidem, p. 20.

[22] Plínio Salgado, p. 35.

[23] P. Salgado, Espírito da burguesia, in Obras completas, vol. XV, p. 15.

[24] Idem, ibidem, pp. 13-4.

[25] P. Salgado, Sofrimento universal, Rio de Janeiro, José Olympio, 1934, p. 41.

[26] Idem, ibidem, p. 40.

[27] P. Salgado, Psicologia da revolução, in Obras completas, vol. VII, p. 73.

[28] P. Salgado, “A anta e o curupira”, in Despertemos a nação, Obras completas, vol. X, pp. 52-3.

[29] P. Salgado, O que é o integralismo, in Obras completas, vol. X, p. 40.

[30] Idem, ibidem, p. 41.

[31] P. Salgado, A doutrina do Sigma, in Obras completas, vol. X, p. 184. Em a doutrina do Sigma, ele afirma ainda: “Cada brasileiro terá de se enquadrar dentro de sua profissão. A vontade nacional será traduzida com honestidade e realidade, no âmbito dos interesses de cada classe” (Obras completas, vol. X, p. 186). “Só os vagabundos ficarão de fora, pois todo homem que trabalha terá de defender seus interesses dentro da sua corporação.”

[32] Renzo de Felice, El fascismo sus interpretaciones, Buenos Aires, Paidós, 1976.

[33] A. Candido, “Literatura e cultura de 1900 a 1945”, in Literatura e sociedade, São Paulo, cen, 1976, pp. 109-38.

[34] Idem, ibidem, p. 131.

[35] Idem, ibidem, p. 130.

[36] P. Salgado, Sofrimento universal, p. 1939.

[37] P. Salgado, A quarta humanidade, in Obras completas, vol. V, p. 104.

[38] P. Salgado, A doutrina do Sigma, p. 179.

[39] H. Trindade, op. cit., p. 176.

[40] P. Salgado, A doutrina do Sigma, p. 195.

[41] Idem, ibidem, pp. 195-6. Um pouco mais à frente afirma: “Por que nós conseguimos isso? Já expliquei num artigo: ‘Técnica de Sorel e técnica de Cristo’ e é nisto que nos diferimos dos movimentos fascista e hitlerista” (p. 197).

[42] Idem, ibidem, p. 200.

[43] P. Salgado, Palavra nova dos tempos novos, in Obras completas, vol. VII, p. 229.

[44] P. Salgado, Carta aos Camisas Verdes, in Obras completas, vol. X, p. 251.

[45] Idem, ibidem, p. 255.

[46] Idem, ibidem, p. 255.

[47] Idem, ibidem, pp. 257-8.

[48] Ricardo Araújo notou isso com muita clareza no estudo que citamos atrás.

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